Em 2023, foram registradas 363 mortes de ianomâmis, número quase 6% maior do que em 2022, quando 343 indígenas morreram. Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (22/2), os ministérios da Saúde e dos Povos Indígenas afirmaram que havia subnotificação de dados na gestão passada. Para a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, se não há assistência ou presença de profissionais no território indígena, “as mortes são perdidas e não conseguimos ter no sistema a informação".
"Consideramos 2023 a linha de base para começar a entender as notificações. Com o aumento dos médicos, de profissionais de saúde, que são agora habilitados a avaliar e notificar, nós temos informação mais qualificada", explicou a especialista.
Ethel também destaca que o melhor mapeamento do cenário vivenciado pelos indígenas possibilita que o governo estabeleça estratégias para enfrentar a crise. "Temos a certeza de que temos subnotificação, mas agora sabemos que temos, sabemos onde temos, e temos o diagnóstico do que está acontecendo no território, o que é diferente nos anos anteriores. Agora podemos dizer onde estão os vazios existenciais e quais as necessidades", frisou.
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“Nós não saberíamos que tinham 30 mil casos de malária — e a malária mata — se não tivéssemos feito 140 mil testes. Estamos trabalhando na melhoria do sistema de informação de forma integrada com a Secretaria de Saúde Indígena. Toda vez que começamos uma estratégia nova, temos percepção de aumento, porque estamos diagnosticando mais, procurando mais. Isso acontece para todas as doenças”, emendou a secretária.
Além disso, segundo o secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, a cultura de luto dos ianomâmis também é um fator que contribui para a subnotificação das mortes. "Os dados referentes aos últimos anos não são confiáveis. Até os dados novos apresentam complexidade de interpretação. Estamos tratando de um povo que tem dificuldade de tratar o tema da morte, que tem um ritual fúnebre de incineração não só do ente querido, mas da maloca e dos entes pessoais para não ter a memória da pessoa", detalhou.
Medidas
No plano de ação para 2024, o Ministério da Saúde anunciou que trabalha com o início da construção do primeiro hospital indígena em Boa Vista, a construção do Centro de Referência em Surucucu (RR), a construção e a reforma de 22 unidades básicas de saúde indígenas, além da reforma completa da Casa de Saúde Indígena em Boa Vista.
Também está sendo feito um Inquérito de Saúde Indígena, em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para identificar a subnotificação de dados no território indígena. De acordo com os dados do Censo, existem 27,1 mil indígenas vivendo na Terra Yanomami. No entanto, os sistemas oficiais do Ministério da Saúde indicam uma população de 31 mil pessoas. Portanto, o objetivo do inquérito é compreender a discrepância entre esses levantamentos.
Desde janeiro do ano passado, o Ministério da Saúde, junto a outras pastas do governo federal, aumentou o efetivo de profissionais e reabriu 6 polos base de atendimento no território, que estavam fechados por ações de garimpeiros ilegais.
“Diante dessas ações emergenciais necessárias que aconteceram, entendemos que um ano não foi suficiente para resolver todas as situações, com a presença do garimpo. Agora, a gente sai de ações emergenciais para ações permanentes com a instalação de casa de governo em Boa Vista”, ressaltou a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
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