A despedida do fundador do Grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz, que morreu domingo, foi marcada pela comoção e tristeza no velório, ontem, no Estádio do Morumbi, casa do São Paulo, seu time do coração. O velório, que contou com diversas personalidades, primeiro com uma cerimônia reservada à família e que depois foi aberta ao público.
Com uma fortuna estimada pela revista Forbes em 2 bilhões de dólares, cerca de R$ 10 bilhões, Abilio Diniz era conhecido como um empreendedor visionário, de força e coragem e que conseguiu transformar a pequena doceria do pai, fundada em 1949, em um dos maiores grupos do varejo brasileiro.
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Diniz foi responsável pela construção e expansão do grupo, que ficou sob seu comando de 1990 até 2013, quando foi vendido, após uma longa disputa judicial, ao sócio francês, Casino. Após deixar a empresa fundada com o pai, se tornou um dos principais acionistas das operações no Brasil do grupo francês Carrefour, passando a concorrer com a marca que havia criado mais de 60 anos antes.
Seu velório foi acompanhado por amigos, empresários, políticos e populares. Mesmo fora do comando do grupo há 11 anos, funcionários do Pão de Açúcar eram vistos uniformizados no estádio.
Compareceram ao velório políticos como o deputado estadual paulista Eduardo Suplicy (PT) e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), além do vice- presidente Geraldo Alckmin e o
ex-presidente Michel Temer.
“A gente lamenta e é uma grande perda não só para a cidade e para o Brasil, mas para o mundo. Abilio levou o nome do Brasil muito positivamente para o mundo todo”, disse o prefeito.
Gente do esporte, das artes e do entretenimento também compareceram, como o apresentador Luciano Huck, a atriz Mariana Rios, o presidente do São Paulo, Júlio Casares, e o ex-piloto Felipe Massa, da Fórmula-1.
História de trabalho
Abilio nasceu em 28 de dezembro de 1936, e foi o primeiro dos seis filhos do casal Valentim e Floripes Diniz. O pai de Abilio foi um imigrante português, que chegou ao Brasil em 1929. Chegando ao Brasil de navio, Valentim se maravilhou com a beleza do morro do Pão de Açúcar, visto do mar. Depois a pequena doceria que abriria com a família na Zona Sul da capital paulista levaria o nome dessa memória do imigrante em sua chegada.
Antes da doceria, o pai de Abilio trabalhou como entregador em um mercado carioca e se casou com a mãe do empresário.
Abilio era apaixonado por esporte. De baixa estatura e fora do padrão estético da época, o empresário contou em sua autobiografia que foi alvo de agressões e bullying na escola. A prática do esporte ajudou a mudar essa história. Nunca mais parou de praticar atividades físicas, e virou uma referência de vida saudável.
Com o pai, Abilio começou cedo a trabalhar e ajudou na produção de doces, na embalagem dos produtos e até na entrega de encomendas. Contou que foi essa vivência que o inspirou na escolha da carreira, ingressando, em 1956, na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição que, anos depois, viria a se tornar professor.
Apesar do nome Pão de Açúcar ter sido implementado por seu pai, foi Abilio quem enxergou o potencial do negócio fundado. O empresário encabeçou o projeto de implantação do primeiro supermercado Pão de Açúcar, que viria a ser inaugurado em abril de 1959, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, no coração de São Paulo.
O supermercado, conceito inovador para a época, começou a atrair a classe média e se tornou sucesso no Brasil. Em 1963, foi aberta a segunda loja da rede, na rua Maria Antônia, em Higienópolis. Em 1965, o Pão de Açúcar fez as primeiras aquisições de empresas, a rede Sirva-Se, pioneira do negócio em São Paulo, que junto com o Peg-Pag, fez o negócio, em 1968, chegar a 40 lojas e 1.642 funcionários. Abilio se firmava como o principal executivo da empresa.
Mas, na virada dos anos 80 para os 90, a empresa começa a passar por instabilidades após uma briga pela sucessão envolvendo Abilio e os irmãos. A tensão só se encerrou em janeiro de 1994, quando foi assinado o acordo onde Abilio garantiu o controle da companhia.
Foi nessa época, ainda no final da década de 1980, que Abilio viveu um momento de grande tensão, quando, em 11 de dezembro de 1989, foi sequestrado. O empresário passou sete dias no cativeiro, em um cubículo subterrâneo, e só foi liberado após extensa negociação envolvendo os sequestradores e a política. Em paralelo, as disputas pelo Pão de Açúcar levaram o grupo a uma crise que o deixou à beira da falência.
Depois da crise, nos anos 1990, Abilio lançou o Pão de Açúcar em mais um ciclo de expansão e, em 1995, em Nova York, abriu o capital do Grupo, comemorando uma excelente fase nos negócios. Foi nesse período, em 1999, que conseguiu uma parceria com a sociedade do Pão de Açúcar com o grupo francês Casino.
Dez anos depois, o Pão de Açúcar adquiriu o Ponto Frio, a segunda maior rede de varejo de eletrodomésticos do país. Em dezembro do mesmo ano, em uma operação de troca de ações, o grupo trouxe as Casas Bahia e, em pouco tempo, o grupo dobrou de tamanho e em valor de mercado.
Em 2010, o empresário criou o curso Liderança 360º na FGV, com o objetivo de identificar e exercitar habilidades de liderança em jovens e traçar um plano de ação para a carreira e seus projetos pessoais. Foi nesse ano também que a família Diniz criou o Instituto Península, uma organização social focada na educação.
Mas, em abril de 2013, após 54 anos de controle dos Diniz, Abilio deixa o comando da empresa e o grupo Casino assume o controle, exercendo o direito de compra previsto numa cláusula que era questionada na Justiça pela família do brasileiro.
Neste ano, o empresário assumiu a presidência do Conselho de Administração da BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo.
Depois de sair do comando do grupo, Abilio se dedicou a trabalhos sociais e deu palestras Em 2022, estreou como apresentador de televisão, em um programa de entrevistas em um canal de notícias.
* Estagiária sob supervisão de Evandro Éboli
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