A escola Vai-Vai, maior campeã do carnaval de São Paulo, levou ao sambódromo do Anhembi o enredo Capítulo 4, versículo 3 — Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano, no domingo (11/2). Uma das alas era composta por pessoas fantasiadas de policiais do batalhão de choque. Eles usavam chifres e asas vermelho-alaranjadas, representando demônios. O desfile gerou reações de delegados e de deputados da direita.
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) emitiu uma nota em que repudia a apresentação. Segundo a associação, o desfile “tratou com escárnio a figura de agentes da lei”. “Ao adotar tal enredo, a escola de samba, em nome do que chama de 'arte' e de liberdade de expressão, afronta as forças de segurança pública, desrespeita e trata, de forma vil e covarde, profissionais abnegados que se dedicam, dia e noite, à proteção da sociedade e ao combate ao crime, muitas vezes, sob condições precárias e adversas, ao custo de suas próprias vidas e famílias”, afirma.
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Em resposta, a Vai-Vai ressaltou que o enredo faz homenagem à cultura do hip-hop e manifestações artísticas da periferia de São Paulo e que um dos recortes da história retratados é o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno (1997), dos Racionais MCs. De acordo com a escola de samba, a ala " fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais Mcs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação".
A ala em que os policiais foram retratados com chifres e asas foi intitulada "Sobrevivendo no Inferno", em referência ao álbum dos Racionais, do qual faz parte músicas como Diário de um Detento e Capítulo 4, Versículo 3. O cantor e compositor Mano Brown, da banda de rap, esteve presente no desfile da Vai-Vai.
Ainda segundo a escola de samba, a representação faz jus à questão da segurança pública em São Paulo na década de 1990, quando o álbum dos Racionais MC's foi lançado. A agremiação também ressaltou a discriminação policial sofrida por precursores do movimento hip hop no Brasil.
Veja a letra do enredo da Vai-Vai:
Olha nós aí de novo, coroa de rei
Capítulo 4, Versículo 3
Vai-Vai manifesta o povo da rua
É tradição e o samba continua
Laroyê, axé me dê licença,
Saravá, seu Tranca-Rua
Eu não ando só, o papo é reto
E a ideia não faz curva
Renegados da moderna arte
Não faço parte da elite
Que insiste em boicotar
"Acharam que eu estava derrotado" "ooooooo"
Quem achou estava errado"
Corpo fechado, sou cultura popular
Meu verso é a arma que dispara
E a palavra é a bala pra salvar
Balançou, balançou o Largo São Bento
Moinho de vento, a ginga na dança
Grande triunfo do movimento
No breaking o corpo balança
Solta o som, alô, DJ
Que eu mando a rima pra embalar manos e minas
Na batida perfeita, meu rap é a voz
As cores da minha aquarela
No muro, a tela que o tempo desfaz
Mas apagar jamais (Vai-Vai, Vai-Vai)
A força do conhecimento
No gueto, procedimento
Atitude de gente bamba
Tem hip-hop no meu samba
É preto no branco, no tom do meu canto
Preconceito nunca mais
Fogo na estrutura
Justiça, igualdade e paz
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