A escola de samba Vai-Vai, primeira a desfilar pelo Grupo Especial neste sábado (10/2) na segunda noite do carnaval de São Paulo, levou para o Sambódromo do Anhembi um enredo sobre o hip-hop, Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano.
Um dos carros alegóricos da escola que voltou ao Grupo Especial este ano, após se consagrar campeã do Grupo de Acesso no ano passado trazia uma estátua do bandeirante Borba Gato, pichado da cabeça aos pés.
A estátua, que orginalmente fica em Santo Amaro, na Zona Sul da cidade, foi queimada em 2021 por manifestantes. Na representação, a escola usou uma simulação de fogo e fumaça na réplica.
"Foi um colono brasileiro, bandeirante paulista, sertanista, proprietário de escravizados e descobridor de metais preciosos. Nas viagens que realizava, para explorar novas terras, os grupos indígenas encontrados pelo caminho eram assassinados, as mulheres estupradas e os sobreviventes aprisionados e vendidos como escravizados. E aí? Fogo na estrutura?", disse a escola essa semana nas redes sociais.
Quem foi Borba Gato?
Manoel de Borba Gato foi um bandeirante nascido na vila de Santo Amaro em 1649. Ele também foi juiz ordinário da vila de Sabará, em Minas Gerais. Ele é comumente lembrado por promover escravidão e caça a indígenas e negros pelo país. Isso porque os bandeirantes tinham como objetivo encontrar metais preciosos no interior do Brasil usando mão de obra escravizada.
A estátua em homenagem a ele foi inaugurada em 1963. Ela tem 13 metros de altura e é do artista Julio Guerra (1912- 2001). O debate sobre a retirada de símbolos e estátuas de escravocratas tem ganhado força nos últimos anos. Hoje, há diferentes projetos de lei em tramitação nas esferas federais, estatuais e municipais que debatem o assunto. No ano passado, o Rio de Janeiro promulgou uma lei que proíbe a prefeitura a manter ou instalar monumentos em homenagem a escravocratas e pessoas que tenham violado os direitos humanos.
Ao longo da história, a estátua de Borba Gato já foi alvo de vários protestos. O lembrado durante o desfile foi o de 2019. Na época, o grupo Revolução Periférica assumiu o ato. O motoboy Paulo Galo, um dos acusados na época, desfilou no carro alegórico. Quem também marcou presença foi o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida.
Homenagem ao Hip-Hop
O samba-enredo da escola foi inspirado na música do grupo Racionais MC’s Capítulo 4, Versículo 3. Quem também marcou presença no desfile foi Mano Brown.