Assédio sexual

No corre e na folia há limite: 'Não é não!'

Campanha contra o assédio sexual volta às as ruas e aos salões neste carnaval para lembrar uma regra básica de respeito. As mulheres também devem adotar algumas atitudes de proteção

Dizer que 'não é não' chega a ser clichê no carnaval. Muitas bandeiras, coletivos e tatuagens exibem o slogan para explicar o básico: o consentimento é regra. No entanto, segue necessário reiterá-lo a cada ano. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva e QuestionPro, divulgada nesta semana, mostrou que sete em cada 10 mulheres têm medo de sofrer assédio durante a folia.

"É muito delicado que as mulheres, além de serem as principais vítimas da violência no carnaval, ainda tenham que ter a responsabilidade de cuidar da sua segurança porque elas são mais vulneráveis a serem assediadas. Mas, infelizmente, temos que ter essa preocupação", lamentou Julia Parucker, CEO e cofundadora do coletivo Não é Não, que atua nacionalmente por meio de campanhas contra o assédio sexual.

Entre as mulheres, 50% das entrevistadas já viveram uma situação de assédio no carnaval, segundo o estudo. Entre os exemplos mais clássicos da importunação sexual está o "beijo roubado". O Instituto Locomotiva perguntou, na pesquisa, se as pessoas achavam que tinha problema um homem "roubar" um beijo de uma mulher se ela estiver bêbada ou com pouca roupa: 81% não concordam com essa atitude. No entanto, o percentual cai (68%) entre quem discorda de que, se a mulher está com pouca roupa, é porque quer beijar.

Poder público e ativistas têm unido forças para realizar campanhas de conscientização efetivas. O Ministério das Mulheres lançou, ontem, um protocolo com informações sobre deveres dos estabelecimentos comerciais diante da ocorrência de constrangimento ou violência contra mulheres em boates, casas noturnas, shows musicais ou em eventos esportivos. O cumprimento das regras atribuirá ao local o selo Não é Não - Mulheres Seguras, e o nome da casa fará parte de uma lista para consulta da sociedade. Já o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, esteve, ontem, em Salvador, para lançar o Bloco do Disque 100, que incentiva a denúncia de violações de direitos humanos.

Além disso, coletivos como o Não é Não distribuem tatuagens nos bloquinhos, falam sobre o assunto nos trios elétricos e confeccionam manuais sobre as formas de assédio. "A gente não tem como mudar a cabeça das pessoas, então, se o assediador, pelo menos, se sentir inibido, vai ocorrer menos crimes", comenta Julia.

"Existem algumas coisas que as mulheres podem fazer. A primeira delas é não deixar que o medo faça você ficar em casa. A gente tem a nossa liberdade para ser feliz e curtir o carnaval", disse a ativista.

Julia acrescenta que algumas ações podem ajudar as mulheres neste período. "Criar um grupo (de mensagens) com amigos que forem sair com a mulher no carnaval. Andar em dupla, no mínimo, e vá até o banheiro com uma amiga. Prestar socorro se você vir alguma mulher precisando de ajuda. Não aceitar bebida de estranhos, deixe sempre sua bebida com você. E, quando voltar para casa, no transporte público ou privado, veja sempre se alguém pode acompanhar. Se for sozinha, tente ficar perto de alguém, e não durma", pontuou.

Alguns telefones são úteis para memorizar, como 180, da Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência; 190, da Polícia Militar; 129, da Central de Atendimento da Defensoria Pública; e 100, para denúncias de violação de direitos humanos. É recomendado também saber o número e o endereço da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) na sua cidade.

 

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