A vacina contra a dengue começou a ser aplicada, nesta sexta-feira (10/2), em crianças de 10 e 11 anos. O Distrito Federal foi a primeira das 17 unidades federativas selecionadas pelo Ministério da saúde a ofertar o imunizante na rede pública. Goiás preferiu esperar o carnaval passar para começar a vacinação — a previsão da prefeitura de Goiânia é iniciá-la na próxima quinta-feira (14/2). Segundo o ministério, lotes da Qdenga (produzida por um laboratório Takeda, do Japão) foram enviados ontem para mais oito estados. Essa primeira remessa tem 172 mil doses, a serem distribuídas por 315 cidades.
Ao longo do ano, o ministério prevê distribuir 6,5 milhões de vacinas nos 521 municípios de 17 estados, selecionados pelo critério de risco. Todos têm características em comum: são cidades de grande porte, com mais de 100 mil habitantes; apresentam alta transmissão da dengue; registram os mais altos números de casos em 2023 e 2024; e convivem com o sorotipo DENV2 predominante, com alta possibilidade de agravamento da doença.
- Tudo que você precisa saber sobre a Qdenga, vacina contra a dengue
- Nísia Trindade: "Vacina não é instrumento mágico"
A pasta informou que, para contemplar o maior número de municípios, a vacina será aplicada até o fim de março exclusivamente em crianças de 10 e 11 anos. Depois, pouco a pouco, a idade será ampliada até os 14 anos. Ainda não há decisão sobre a distribuição da vacina durante o carnaval. A previsão é que, chegando ao centro de distribuição de cada capital, as cidades do estado ainda levem até dois dias para iniciar a imunização nos postos de saúde.
"É um momento histórico, há 40 anos se espera por uma vacina contra a dengue. Agora, temos uma vacina incorporada ao SUS. Mesmo sem epidemia, nós começaríamos a vacinação porque a dengue é um problema de saúde pública há muito tempo", declarou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, que marcou presença na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Cruzeiro, em Brasília, para acompanhar o primeiro dia de vacinação.
O clima na unidade de saúde em que a ministra estava era de grande expectativa, com uma longa fila. A jornalista Mara Regia, 72 anos, acordou cedo para levar o neto Enrico, 11 anos, ao posto. "É um exercício de cidadania, acima de tudo. Depois da covid, em que tivemos campanha contra a vacina, é quase um resgate para que a população entenda, de uma vez por todas, que vacina é vida. É a única forma de sobreviver a um tempo de mudanças climáticas", disse ela. Um pouco contrariado pela picada da agulha, Enrico entendeu o motivo de estar lá: "É importante tomar vacinas".
O ministério deve ampliar apenas no próximo ano o número de municípios e a faixa etária da campanha. "Dependemos muito da capacidade de produção do laboratório. Temos um cronograma de entrega atrelado a isso. Em 2024, serão pouco mais de 6 milhões de doses, ou seja, vamos conseguir vacinar cerca de 3 milhões de pessoas", explicou Eder Gatti, diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
"Estamos trabalhando para ampliar (o número de doses disponíveis) com apoio da Fiocruz. Vamos apoiar também a vacina do Instituto Butantan, que ainda não foi submetida à Anvisa", acrescentou Nísia Trindade. Segundo ela, a Fiocruz tem condição de agilizar a produção da Qdenga. O Butantan, que desenvolve uma nova vacina contra a dengue, apresentou o relatório final da fase 3 de estudos na semana passada. A previsão é que a vacina seja apresentada à Anvisa em setembro, para ser ofertada ao público em 2025. Diferentemente do produto japonês, que prevê duas doses com intervalo de três meses, o do Butantan é de aplicação única.
"Pior cenário"
A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, disse que há projeção de o Brasil bater recorde de casos de dengue neste ano, podendo passar de 4,6 milhões. No ano passado, foram registrados 1,6 milhão de casos de dengue no país. "O que nós estamos observando é uma antecipação dos casos. Começamos a ver crescimento de casos já em janeiro devido a dois fatores. Primeiro, a circulação dos quatro sorotipos. Um deles estava havia 15 anos sem circulação no Brasil. Segundo, o comportamento diferente do mosquito. Ele circulava mais no final da tarde, no início da manhã. Agora, está acontecendo durante todo o dia, e as altas temperaturas ajudam também na reprodução", explicou a secretária.
De acordo com ela, o repasse de R$ 256 milhões aos estados e municípios, anunciado pelo ministério no ano passado, já foi pensado para esse cenário. O montante é destinado para ações de combate ao Aedes aegypti. "Nós nos preparamos para o pior cenário. Se ele não acontecer, melhor ainda", finalizou.
Saiba Mais