Após uma discussão sobre problemas de vulnerabilidade social e exploração infantil vividos por moradores da Ilha de Marajó (PA) tomar a internet, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) emitiu uma nota, na noite desta quinta-feira (22/2), e alegou a “utilização de forma irresponsável e descontextualizada” de informações. De acordo com o governo, a realidade de exploração sexual é um problema histórico na região, mas a associação do povo marajoara, em especial crianças e adolescentes, ao contexto de violência estigmatiza e expõe a população ao agravamento de riscos sociais.
“As vivências das populações tradicionais do Marajó não podem ser reduzidas à exploração sexual, já que é uma população diversa, potente em termos socioambientais e que necessita sobretudo de políticas públicas estruturantes e eficientes, com a inversão da lógica assistencialista e alienante de sua realidade e modos de vida”, afirma a publicação. A nota ainda detalhou ações na região. Segundo o MDHC, foram realizadas “três grandes agendas no território marajoara, de diagnóstico e ouvidoria itinerante, com delegação composta por representantes do MDHC e outros Ministérios e órgãos parceiros” desde a criação do programa Cidadania Marajó, em maio do ano passado.
Nos últimos dias, Marajó tem gerado indignação nas redes sociais após uma apresentação da cantora Aymeê Rocha no programa Dom Reality, na última sexta-feira (16/2). Na canção autoral Evangelho de Fariseus, a artista denunciou tráfico de órgãos e abuso infantil na localidade. "Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, minha terra. E lá tem muito tráfico de órgãos. Lá é normal isso. Tem pedofilia em nível hard. As crianças de 5 anos, quando veem um barco vindo de fora com turistas... Marajó é muito turístico, e as famílias lá são muito carentes. As criancinhas de 6 e 7 anos saem numa canoa e se prostituem no barco por R$ 5", relatou Aymeê.
A denúncia da artista acendeu um alerta em figuras públicas como os influenciadores Virginia Fonseca, Juliette, Carlinhos Maia, Rafa Kalimann e Eliezer, que repercutiram ainda mais a questão. As informações começaram a ser disseminadas ainda por apoiadores do governo de Jair Bolsonaro, que afirmaram que a senadora e ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) já havia alertado para as violações enfrentadas na Ilha de Marajó.
Nas redes sociais, Damares acusou o atual governo de omissão em relação às denúncias e destacou o programa Abrace o Marajó, criado por ela e revogado em 2023. Em resposta, nota do MDHC destacou que o governo federal criou, em maio de 2023, o programa Cidadania Marajó.
A justificação para o cancelamento do Abrace o Marajó foi que o programa criado na gestão de Jair Bolsonaro seria alvo de uma série de denúncias. "Segundo relatório da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia da Câmara dos Deputados, o programa foi utilizado para a exploração de riquezas naturais e para atender a interesses estrangeiros, sem benefício ou participação social da população local", diz texto da Presidência da República distribuído à imprensa.
*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori
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