Nesta quarta-feira (21/2), é celebrado o Dia Internacional da Língua Materna, data estabelecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com o objetivo de ressaltar a importância da diversidade linguística. No Brasil, além do português, existem mais de 200 línguas indígenas. Portanto, com o objetivo de preservar esse aspecto cultural e incentivar a fala da língua materna, duas pesquisadoras e dois estudantes desenvolveram um teclado especial para povos originários, conhecido como Linklado.
A iniciativa surgiu em 2022, como uma resposta às dificuldades enfrentadas na escrita das línguas indígenas em plataformas digitais. O projeto foi desenvolvido em parceria com as pesquisadoras Noemia Ishikawa e Ana Carla Bruno, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e os estudantes Samuel Minev Benzecry e Juliano Portela.
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"Parece uma coisa irrelevante, não é? Imaginem ter seus nomes escritos, registrados em documentos oficiais, escrever mensagem através de Whatsapp, histórias, livros didáticos com grafemas ou letras que não representam de fato os sons (fonemas) de suas línguas? Por muito tempo, a escrita foi um instrumento de poder nas mãos dos não indígenas, hoje a escrita pode ser um instrumento de poder nas mãos dos próprios indígenas", explica a pesquisadora Ana Carla Bruno.
"É muito importante que estas línguas continuem sendo utilizadas de forma oral pelas crianças, jovens e adultos nas aldeias, nas cidades, nas comunidades, na universidade. E que os próprios indígenas decidam o que querem escrever nas suas línguas. A possibilidade de escrever na língua materna é uma das maneiras de mantê-las em uso, sobretudo entre os jovens”, acrescenta.
A ausência de caracteres especiais nos teclados não apenas restringia a comunicação diária dos falantes de línguas indígenas, mas também impactava o avanço acadêmico, pois os estudantes indígenas encontravam dificuldades ao redigir monografias, dissertações e teses em línguas maternas, enquanto escritores enfrentavam barreiras para publicar obras.
A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou um plano de dez anos (2022-2032), chamado de Década Internacional das Línguas Indígenas, para preservar a diversidade sociolinguística. Cabe destacar que, cada vez que uma língua indígena é extinta, também se vão a cultura, a tradição e os saberes que ela carrega. Segundo a ONU, os povos indígenas são 6% da população global e falam mais de quatro mil das 6,7 mil línguas do mundo. No entanto, estima-se que mais da metade de todas elas serão extintas até o final deste século.
Pouca presença digital
De acordo com a Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), apenas 12 línguas indígenas ibero-americanas (quéchua, guarani, maia, aimará, náhuatl, bribri, k'iche', nhengatu, totonaco, otomí, triqui e kaqchikel) estão presentes nos principais mecanismos de busca ou aplicativos linguísticos de uso massivo na internet, como Google, Bing, Duolingo, Aikumi ou
Wikipedia.
No relatório Línguas indígenas no mundo digital: Inventário de recursos e lacunas, a organização internacional aponta que embora as línguas possam recuperar a visibilidade por meio do universo digital, a falta de protocolos, fontes, teclados e, principalmente, a escassez de acesso à internet e de alfabetização digital das populações indígenas "ampliaram a lacuna entre as línguas dominantes e as línguas indígenas".
O aplicativo Linklado é gratuito e está disponível para dispositivos Android, iOS e Windows. Para acessá-lo, basta clicar neste link.
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