O Homem da Meia-Noite arrastou uma multidão de foliões pelas ladeiras de Olinda na noite do sábado de Zé Pereira (10/2) e domingo de carnaval (11/2) com o tema “Terra indígena”. O cortejo homenageou os povos originários Xukuru, o Caboclinho 7 Flechas e o cantor e compositor pernambucano Marron Brasileiro. Entre frevo, toré e caboclinho o gigante mais amado do Brasil destacou a diversidade e a riqueza dos povos indígenas.
“Quando a gente pensou nesse tema, por incrível que pareça, pensamos mais nos valores que no território, que também é tão significativo e importante. É um tema que aguça uma importante reflexão para a humanidade. Como a gente surge de um povo que trabalha coletivamente, respeita a ancestralidade e a natureza e a gente constrói uma sociedade tão individualista, tão desafiadora e tão cruel que a gente vive? Isso precisa ser refletido para que a gente possa se transformar e transformar o mundo. É um grito de alerta”, ressalta o presidente do Homem da Meia-Noite, o professor Luiz Adolpho.
Traje de 2024
A imponente vestimenta, criada pela estilista Dayana Molina, descendente das etnias fulni-ô e Aymará, incorporou elementos marcantes da rica cultura dos povos originários. Cada detalhe da roupa refletiu com maestria a inspiração nos traços e símbolo, adicionando um toque de autenticidade e respeito à expressão artística no Carnaval de Pernambuco. “Eu passei toda a minha infância ouvindo histórias sobre o Calunga. Nunca imaginei que um dia eu faria parte desta história. Pense como fiquei surpresa e muito feliz. O povo Xukuru é a verdadeira representação deste tema. Eles têm uma influência decisiva neste traje”, revelou Dayana.
Marron Brasileiro
O cantor pernambucano Marron Brasileiro, revelou que possui bastante identificação os caboclinhos, revelou que o caboclinho é o carro-chefe do seu trabalho. “Meus grandes sucessos são em ritmo de caboclinho. O significado é essa coisa de você manter viva a tradição dos povos originários tão forte e tão presente e de uma beleza fora do comum. Você vê um caboclinho desfilando é muito lindo. E pensar que alguns anos atrás, os caboclinhos estavam passando por uma situação deprimente. Ainda há muito o que ser feito, mas beiraram a extinção”
Marron contou que a relação que tem com o gigante é espiritual. “É de admiração profunda, de grandiosidade e de fé. Sabemos que há todo lado religioso por trás do calunga. Ele simboliza a cultura que resiste e pulsa em nossos corações. Uma das imagens mais marcantes que eu vi na pandemia foi o mundo todo parado, mas o Homem da Meia-Noite estava lá”.
Caboclinho 7 Flexas
Paulo Sérgio dos Santos Pereira é presidente do Caboclinho 7 Flechas e ressalta que a homenagem do Homem da Meia-Noite reforça a luta dos caboclinhos por espaço e voz. “Eu comecei a dançar caboclinho aos 2 anos de idade e hoje estou com 56. Vi muita coisa mudar. Chegamos a avançar, mas ainda falta muita estrada. Agradecemos imensamente a visibilidade que o Calunga nos deu e faremos uma grande festa”.
Povo Xukuru
O povo Xukuru é uma comunidade indígena que habita a região nordeste do Brasil, principalmente no estado de Pernambuco, mais precisamente na Serra do Ororubá, próximo à cidade de Pesqueira. Eles têm uma rica tradição cultural, com práticas ancestrais, língua própria e rituais significativos. Sua história é marcada por desafios e lutas por reconhecimento de terras, direitos e preservação de sua identidade cultural.
Essa comunidade indígena tem desempenhado um papel importante na preservação e promoção de suas tradições, contribuindo assim para a diversidade cultural da região. Homenagens, como aquela realizada pelo Homem da Meia-Noite no Carnaval de Pernambuco, destacam a importância de reconhecer e celebrar a riqueza cultural dos povos originários, como os Xukuru.
História
O Homem da Meia-Noite é uma figura icônica e tradicional no Carnaval de Olinda, Pernambuco. Ele foi criado em 1931 e sua história é permeada de vários mistérios. A primeira fala sobre o amor do fundador Luciano Anacleto pelo universo do cinema, onde após assistir ao filme “O Ladrão da Meia-Noite” teve inspiração para criar o gigante. A segunda revela uma lembrança do músico Benedito Bernardino da Silva, criador da música oficial do Calunga, que fala sobre um homem elegante, com dentes de ouro e fraque verde e branco, que pulava as janelas das senhoritas para namorá-las. E a terceira possui forte ligação ao Candomblé, religião de matriz africana, por ter nascido no dia 2 de fevereiro, Dia de Yemanjá.
O gigante tornou-se uma tradição enraizada no carnaval do Brasil, simbolizando a alegria, a criatividade e a celebração da diversidade cultural. O bloco atrai foliões de todas as idades. O desfile do Calunga ocorre sempre na madrugada do sábado para o domingo de Carnaval, iniciando exatamente à meia-noite. Neste horário, o Calunga ganha vida e percorre as ladeiras do Sítio Histórico de Olinda com muita alegria e emoção.
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