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Carnaval e o desafio do uso de camisinha contra as ISTs

Especialista em sexualidade aponta que, na prática, as pessoas ainda são culturalmente resistentes à camisinha

Importância do uso de preservativos, tanto masculinos quanto femininos, é consenso entre especialistas -  (crédito: Daiane Mendonça/ Governo de Rondônia)
Importância do uso de preservativos, tanto masculinos quanto femininos, é consenso entre especialistas - (crédito: Daiane Mendonça/ Governo de Rondônia)

Carnaval é tempo de folia, festa, bebida e também de falar sobre sexo. A época costuma vir acompanhada de campanhas de prevenção a Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), encabeçadas por órgãos e autoridades da saúde. Apesar disso, especialista em sexualidade aponta que, na prática, as pessoas ainda são culturalmente resistentes à camisinha. 

"Normalmente, durante o carnaval, as pessoas falam mais sobre sexo e camisinha, mas elas não tomam mais cuidados. Pelo menos, nas cidades onde já trabalhei, parece que, durante o carnaval, as pessoas pegam camisinha tranquilamente, livremente, sem nenhuma vergonha. Mas não significa que ela vai utilizar", comenta Elias Marcelino da Rocha, especialista em saúde pública e sexualidade. Professor do curso de enfermagem na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), ele realizou pesquisa sobre a relação da sexualidade com o carnaval. 

O resultado do estudo, realizado no ano passado em um município do Vale do Araguaia, mostrou que 94% dos entrevistados acreditam que aumenta o risco de transmissão de ISTs. Porém, 84% declararam que as pessoas não se previnem mais nesta época do que em outras.

"A questão de não se prevenir mais é por causa da questão da bebida alcoólica. Tanto do lado masculino quanto do feminino, essas pessoas estão na euforia. Algumas acabam perdendo a noção de proteção e segurança. E aí a gente sabe que, após o carnaval, aumenta o número de ISTs e de gravidez", ressalta o pesquisador.

Apesar da mostra local do estudo, com 192 pessoas, Rocha acredita que os números refletem o pensamento da sociedade brasileira. "É uma questão cultural. A maioria das pessoas procura informação na internet. Se essa educação em saúde fosse feita em casa, pelos próprios familiares, seria bem mais tranquilo", comenta.

O professor de enfermagem ainda destaca que há um fundo de machismo do contexto social. "Do lado masculino, muitos homens acabam não usando a camisinha por medo de perder a ereção ou têm insegurança de colocar a camisinha corretamente. Da parte das mulheres, há o fato de que a camisinha feminina não pegou. É difícil encontrar mulheres falando que usam a camisinha feminina. E, às vezes, elas não exigem que o parceiro use porque, se ela o fizer, pode perder aquela relação sexual. O poder ainda está na mão dos homens. Não deveria, mas, infelizmente, é o homem que decide colocar ou não", declara. 

Para ele, falta uma "sensibilização adequada" sobre os preservativos. "Da mesma forma que treinamos garfo e faca, esportes, colocar a camisinha deveria ser treinado. As pessoas precisariam treinar no quarto delas, no banheiro, para que, no momento da emoção, consigam colocar a camisinha corretamente", diz o professor. 

Ele ainda brinca que, assim como camisetas P de algumas marcas servem e outras não, ocorre o mesmo com a camisinha. "O ideal seria que os homens soubessem qual tamanho e marca de camisinha ficam confortáveis no corpo deles — por isso, eles falam que é desconfortável. Mais de 90% dos homens sabem que existem vários tamanhos de preservativo, mas mais de 70% não sabem qual utilizam", acrescenta. 

Outros métodos

O Ministério da Saúde lançou a campanha Carnaval, respeito e proteção #TemQueTer, de prevenção às ISTs, na última semana. Neste ano, a pasta reforçou a "prevenção combinada", que acrescenta ao uso da camisinha, a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e a testagem regular, para aumentar as chances de proteção.

A PrEp é utilizada antes da relação sexual, caso haja risco de contato com o HIV. Já a PEP é uma medida de emergência, em caso de ter tido relação sexual desprotegida. O recomendado é iniciar o tratamento nas primeiras duas horas após a exposição, mas ele pode ser feito em até 72 horas.

A testagem pode ser feita para diversas ISTs, como HIV, sífilis, hepatite B e hepatite C. Segundo o Ministério da Saúde, a realização dos testes é importante para o diagnóstico precoce. Todos os itens de proteção sexual estão disponíveis gratuitamente pelo SUS.

 

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postado em 11/02/2024 06:09 / atualizado em 11/02/2024 06:09
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