Na manhã desta segunda-feira (5/1), funcionários do Grupo Silvio Santos (GSS) fizeram alterações no prédio do Teatro Oficina, na capital paulista. A equipe da casa de espetáculos afirmou que foi surpreendida por uma “ação truculenta” que retirou a escada que liga o local à área externa e obstruiu os arcos de passagem com tijolos. O episódio é mais um desdobramento da batalha judicial travada entre o magnata das telecomunicações e a gestão do Oficina, iniciada há cerca de 40 anos com o dramaturgo Zé Celso.
Em decisão de 2019, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) autorizou o GSS a retirar a escada externa do teatro, já que a construção dá acesso ao terreno de propriedade da holding. Desde então, segundo alega o Teatro Oficina, as partes discutiam como seria feita essa retirada. No fim do ano passado, no entanto, a equipe pediu a suspensão da decisão, já que um acordo entre o MP e a prefeitura decidiu pela destinação de R$ 51 milhões para implantação de um parque no entorno da área, o Parque Rio Bixiga.
De acordo com o Teatro, a ação da construtora veio como resposta a uma ordem da Justiça, que intimou a empresa a se manifestar sobre o pedido de suspensão, na última sexta-feira (2/2). “Se é verdade que existe autorização judicial para a retirada da escada, também é verdade que o momento escolhido para esse ato - exatamente quando se aguarda a decisão do juiz sobre o pedido de suspensão do processo - causa estranheza, e surpreende pela precipitação”, afirmou nota.
NOTA PÚBLICA
— Teatro Oficina Uzyna Uzona (@teatroficina) February 5, 2024
O Grupo Silvio Santos ajuizou ação em 2014 buscando, dentre outros pleitos, a retirada da escada colocada no entorno do Teatro Oficina, cedido em comodato ao referido Teatro, bem como o refazimento da parede divisoria, com o fechamento de uma abertura. pic.twitter.com/7wN5Rv51tp
O GSS confessou que deu ordens para tampar os arcos e retirar a escada. “O GSS só buscou reparar o estado original de nosso imóvel após longa e exaustiva discussão Jurídica que reconheceu ,nos autos do processo, que a referida escada nunca havia sido parte do tombamento do Teatro Oficina. Comprovado nosso direito, obtivemos decisão favorável nesse sentido, e cumprimos com a decisão Judicial. O correto teria sido a outra parte ter executado o reparo, mas , pela incapacidade financeira alegada, o Juízo entendeu que se o GSS poderia fazê-lo”, argumentou.
Para o Teatro, o fechamento dos túneis pode ser uma violação à arquitetura do prédio, que é um projeto da arquiteta Lina Bo Bardi (responsável por monumentos como o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP) e cuja construção é tombada nacionalmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em nota, o Iphan afirmou que foi surpreendido pelo ato desta segunda e que deve fazer uma vistoria na obra na terça-feira (6/2). De acordo com o órgão, por ser um bem tombado, o Iphan teria que autorizar a modificação feita pela empresa, o que não ocorreu.
O ato contra a construção causou revolta nos frequentadores, dramaturgos e outras figuras públicas. A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) repudiou a ação do grupo e criticou a prefeitura pela demora na implantação do parque. “Absurda e criminosa a ação do Grupo Silvio Santos contra o Teatro Oficina, o Parque do Rio Bixiga e a memória de Zé Celso”, declarou.
Absurda e criminosa a ação do Grupo Silvio Santos contra o Teatro Oficina, o Parque do Rio Bixiga e a memória de Zé Celso.
O Ministério Público JÁ fechou acordo para repassar R$51 milhões pra Prefeitura implantar o Parque no terreno do Grupo Silvio Santos, ao lado do Teatro… https://t.co/ZEVzX2u8Oe— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) February 5, 2024
Além do Iphan, o Oficina também é tombado como patrimônio a nível municipal pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e a nível estadual pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT).
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