Angústia, ansiedade e até crise de pânico foram alguns dos sintomas relatados ao Correio por estudantes que esperaram quase dois dias pelo resultado do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A lista de aprovados por instituição de ensino deveria ter sido divulgada na terça-feira (30/1), porém, o Ministério da Educação (MEC) informou que teve problemas técnicos e adiou a consulta dos alunos para esta quarta-feira (31/1). O ministro Camilo Santana chegou a assegurar que a divulgação seria no início da tarde desta quinta-feira (1º/2), mas a listagem só foi disponibilizada no site oficial do sistema por volta das 18h.
Mesmo assim, após os estudantes conseguirem acessar o resultado, muitos relataram instabilidades no site. Até o fechamento desta edição, o MEC não informou quais foram os problemas técnicos que motivaram o atraso. A pasta limitou-se apenas a lembrar que a matrícula nas instituições de ensino começa nesta sexta-feira e vão até 7 de fevereiro.
Sthefany Silveira, 21 anos, estudante de Porto Seguro (BA), teve a comemoração interrompida pela "pane" do sistema. "Às 9h tive acesso ao Sisu e vi o meu tão sonhado 'aprovado' no curso interdisciplinar em humanidades (direito) na UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia). Comemorei, chorei, liguei para a família. Exatamente às 9h25, o site saiu do ar e eu não consegui mais ter acesso", lembra a jovem ao relatar suas tentativas de acesso. Alguns candidatos até conseguiram ver os resultados no início da manhã de terça, mas, em seguida, o site saiu do ar. No mesmo dia, à noite, o MEC informou que teve "problemas técnicos no sistema e reiniciou os protocolos de homologação", o que provocou o adiamento para esta quarta-feira.
"As especulações começaram a surgir de que havia erro e que a nota não era válida. E o coração, como fica após ter contado para toda a família, ter comemorado, chorado?", disse Sthefany. A estudante passou esta quarta-feira lidando com a ansiedade e disse que não sabia mais "o que fazer".
Ao consultar novamente a classificação, uma surpresa: o nome dela não constava da lista de aprovados. Sthefany estranhou o resultado, que não mostrava a nota de corte do curso. Ela, então, resolveu conferir a lista de aprovações por instituição no site do próprio MEC. Ali, encontrou o nome na listagem. Ainda em dúvida, acessou o Sisu pelo celular do esposo. Assim como na manhã de terça, o 'aprovado' estava escrito ao lado do nome da estudante baiana. Após vinte minutos de instabilidade no sistema, ela, enfim, pôde desatar o nó da garganta e comemorar, aliviada, a aprovação.
- Sisu 2024: Confira número de vagas por instituição pública
- Sisu 2024: resultado é divulgado; saiba como consultar
- Sisu tem regras de classificação alteradas pela nova Lei de Cotas
A experiência, classificada como "aterrorizante" pela jovem, também foi vivida por Pedro Lucas Barbosa, 17 anos, de Samambaia Norte (DF). "Um mix de emoções negativas, estresse, nervosismo, ansiedade, porque foi meu primeiro contato com o Sisu", resumiu. "Não esperava que a logística fosse tão ruim quanto já haviam me dito", acrescentou o jovem. Ele se inscreveu para o curso de ciências sociais na Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) e química no Instituto Federal de Brasília (IFB). "É inacreditável tamanha irresponsabilidade dos que deveriam ser exemplo de organização e pontualidade, visto que cobram com excesso essas mesmas coisas de nós", desabafa.
Beatriz Rangel Leite, 18 anos, do Rio de Janeiro, também sentiu os efeitos colaterais dessa espera. "Essa irresponsabilidade acarretou fortes crises de pânico e ansiedade em mim e, infelizmente, não sou a única", desabafou. A jovem se inscreveu para o curso de psicologia na Universidade Federal Fluminense (UFF). Para ela, a pior parte da espera foi a falta de informação dos órgãos governamentais. "O que mais me deixou perdida foi ver o Inep divulgar diversos outros conteúdos no Instagram, como Enade, ProUni,Conae, entre outros", criticou a jovem, que fez parte dos milhares de comentários nas redes sociais cobrando uma resposta das autoridades sobre o horário de divulgação. "A sensação é de ser abandonada pelo governo, sem apoio algum nos estudos", resumiu.
A indignação da estudante carioca é compartilhada por Julyana Alves, 18 anos, do Ceará. "Quem é pobre não tem muitas escolhas. Estou trabalhando e tentando tirar isso um pouco da mente", contou para a reportagem, na tarde desta quarta-feira, ainda ansiosa pela liberação dos resultados. Estudante de escola pública a vida toda, ela diz que "sempre dependeu do governo". Para ela, houve "descaso com os alunos" e "zero preocupação" com os sentimentos de quem estava aguardando por esta resposta.
Julyana e Beatriz ainda tinham outra preocupação: a inscrição para o Portal Único de Acesso ao Ensino Superior (ProUni). O programa concede bolsas de estudo integrais e parciais para cursos de graduação em instituições privadas. Usualmente, os estudantes esperam o resultado do Sisu, que é para universidades públicas, antes de recorrer à inscrição no ProUni. O nervosismo com o tempo, nesse caso, foi ainda maior, pois as inscrições do ProUni fechariam nesta quinta-feira. Após pressão popular, o MEC anunciou a prorrogação do prazo de acesso ao ProUni por mais 24 horas, até esta sexta-feira à noite.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br