Dengue

'País desorganizou a vigilância em saúde', analisa especialista sobre dengue

Casos da doença tem aumentado no país. Segundo o sanitarista Jonas Brant, medidas contra a dengue precisam de agilidade e logística

O Brasil vive um período conturbado com o aumento expressivo dos casos de dengue. Nos dados mais atualizados sobre a doença, 217.481 mil casos prováveis de dengue foram registrados no país. Em comparação a janeiro do ano passado, com 65.366 casos, o aumento é de 232,7%.

Frente às ações e medidas no combate à dengue, na visão do sanitarista Jonas Brant, é importante que os municípios se organizem em salas de situação, gabinetes de crise, centros de operação em inteligência para que a análise dos dados ajude a direcionar os recursos recebidos para o combate à doença. “Esses recursos, não só financeiros, mas também materiais e logísticos, devem ser aplicados de maneira a tentar quebrar as cadeias de transmissão”, analisa Brant.

A incorporação da vacina é mais um esforço para tentar controlar o avanço dos casos de dengue no país. Brant avalia que o imunizante é a melhor ferramenta, em termos de prevenção, mas o baixo número de frascos do imunizante, a distribuição direcionada a apenas um público-alvo e a necessidade de duas doses para que surja uma proteção, não devem ter um impacto no cenário atual de endemia de dengue. “Talvez, em endemias futuras, com o aumento da cobertura, pode ser que haja o aumento dessa barreira que diminuiria a transmissão da doença”, complementa.

Uma preocupação importante do sanitarista é de que as pessoas não achem que a vacina é a solução definitiva e duradoura para as arboviroses. “A vacina da dengue tem uma proteção importante, mas ela não elimina a possibilidade de transmissão da dengue. Temos no momento uma previsão de baixa cobertura vacinal, que ainda necessita de três meses para atingir a sua efetividade e ainda há o fato de termos o problema de outras arboviroses”, pontua Brant.

Um dos fatores que contribuíram para o aumento significativo de casos de dengue no Brasil foi o efeito do El Niño. “Teve o aumento da temperatura e das chuvas em algumas regiões do Brasil. Os dois fatores atuam de maneira a facilitar a proliferação do Aedes Aegypti”, observa o sanitarista.

Outro fator de importância é a desmobilização das ações de controle nos últimos anos. “O país desorganizou sua vigilância em saúde, principalmente porque direcionou todo o esforço para o enfrentamento da pandemia de covid-19 e agora há um cenário que tem que reorganizar a vigilância para o enfrentamento de uma doença vetorial que não se estruturou no cenário pós-pandemia. O governo em transição, tentando se reorganizar mas ainda não conseguiu colocar todas as medidas de enfrentamento às arboviroses”, esclarece.

Medidas ministeriais 

Frente a situação, o Ministério da Saúde afirma que ações já tomadas desde 2023 foram reforçadas, com a intensificação dos esforços para a conscientização sobre medidas de prevenção. Para além, criou-se também um painel de monitoramento em tempo real dos casos de arboviroses.

A realização da reunião nacional sobre o período de alta transmissão de arboviroses foi outra ação a fim de tentar mitigar o problema no Brasil. O projeto contou com a participação dos 27 Unidades da Federação e 42 municípios.

Em novembro do ano passado, uma Nota de Alerta foi direcionada aos estados sobre o aumento dos casos de dengue e chikungunya. Frente ao perigo, para apoiar os estados em situação de criticidade pela doença, o Ministério da Saúde repassou, no mesmo período, R$ 256 milhões de reais para todo o país para ajudar na ação de reforço contra a dengue.

A Sala Nacional de Arboviroses foi instalada no final de 2023 e compreende um espaço permanente de monitoramento em tempo real dos locais com maior incidência das doenças. O espaço visa o direcionamento de ações de vigilância de forma estratégica nas regiões mais afetadas.

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