IDENTIDADE

Conheça a Família Sanko, que defende a cultura preta e os direitos de PcDs

A pequena Areta, de 5 anos, futura cientista, chamou a atenção nos últimos dias com um vídeo contando sua própria história como criança PcD

Direto de São Carlos, cidade do interior de São Paulo (a 230 km da capital paulista), a Família Sanko —quarteto formado por Mariana, Rafael, Areta e Amara — vem ganhado destaque nas redes sociais no cuidado e referência à cultura preta e na construção de um ambiente positivo a quem convive com uma pessoa com deficiência (PcD).

A família faz conteúdo para as redes sociais há quase quatro anos, mas foi durante a pandemia, que os pais se viram trancados em casa, precisando educar duas crianças, que a busca pela ancestralidade e educação crítica se tornou tema para os conteúdos.

Antes de começar, Mari e Rafa procuraram referências que tivessem alguma ligação com a sua vivência, mas pouco encontraram. “É importante para nós que as nossas crianças cresçam com uma referência. Então as coisas começaram com muito estudo e chegou uma hora que o estudo batia com a vida e passamos a fazer um conteúdo com referências de estudos reais”, comenta Rafael.

A pequena Areta, de 5 anos, futura cientista, chamou a atenção nos últimos dias com um vídeo contando sua própria história como criança PcD. 

Durante o parto, Mariana sofreu violência obstétrica e o braço esquerdo de Areta acabou sendo puxado e lesado. Hoje ela tem uma movimentação reduzida no membro. “Quando tudo aconteceu, nós demoramos um tempo para perceber. A questão da violência obstétrica é que tudo é feito e te dizem que não havia outra forma. Então, do nascimento dela até a gente entender o que aconteceu demorou mais ou menos um ano. E até a gente entender que o que ela tinha era deficiência foram três anos”, comenta Mariana.

De acordo com levantamento da Fundação Perseu Abramo, a violência obstétrica atinge uma em cada quatro mulheres brasileiras. Mas as agressões são ainda maiores em negras, quetêm mais chance de ter atendimento negado, ser impedidas de ter acompanhante durante o parto, não receber anestesia para alívio da dor, ouvir diferentes agressões verbais, entre outras.

“Desde o momento do pré-natal nós sofremos violência obstétrica. Não tive acompanhamento, a médica simplesmente não se importava. É forte, porque quanto mais a gente vai se aprofundando, mais a gente vê que é complexo”, disse a mãe.

 

Reprodução Instagram @sankofamilly - Família Sanko: Rafael, Mariana, Areta e Amara

Contar e deixar tudo às claras para Areta foi outra etapa. “Ela é muito inteligente, nós contamos o que tinha acontecido, que as mulheres pretas são as maiores vítimas. Quando entramos nesse universo de forma mais consciente, nós procuramos exemplos e sempre deixamos claro que ela pode fazer tudo, mas do seu jeito”, explica a mãe.

A vontade de fazer um vídeo se apresentando surgiu desse ambiente. Emocionado, o pai lembra de perguntar como a filha se sentia com a atitude e a resposta foi simples: “Normal”. “Eu falei que era isso mesmo, ela é uma pessoa normal e é importante se sentir assim, mas tem que saber que muitas outras crianças e adultos podem não percebê-la dessa maneira. Então, quando ela falou que queria compartilhar sua história e como ela era feliz assim, a gente não conseguiu negar.” 

Bons frutos 

Além de se expressar, as redes sociais têm possibilitado oportunidades à família. Uma seguidora apresentou aos Sanko a União das Ligas Acadêmicas de Fisioterapia da Universidade de São Paulo (USP), onde Areta passou a fazer acompanhamento. E a recíproca também existe: “Hoje o Instagram é nosso maior canal. Nele, teve um comentário que nos emocionou muito. Um homem, de 52 anos, que, com o vídeo da Areta, entendeu que passou pela mesma violência quando nasceu e, portanto, também era um PCD”, ressalta Mari. 

“O mais importante é entender a pessoa com deficiência como parte da sociedade, é munir essas pessoas de empoderamento a respeito do corpo delas, do que podem fazer e, principalmente, conscientizá-las a procurar seus direitos e assim como ter consciência de todas as diversas possibilidades de se existir com a deficiência”, concluiu a matriarca.

 
 
 
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