POVOS ORIGINÁRIOS

Um ano após estado de emergência, ianomâmis ainda vivem crise sanitária

Em reunião ministerial governo disse que vai implementar medidas permanentes para a região

Quase um ano após a intervenção de emergência na saúde dos ianomâmis feita pelo governo Lula, a população indígena da Reserva da Biosfera Alto Orinoco-Casiquiare ainda sofre com a crise sanitária e registra casos de desnutrição. 342 ianomâmis morreram apenas em 2022, no ano seguinte, o primeiro da gestão petista, foram registrados 308 óbitos —53% das vítimas eram crianças.

Imagens exclusivas do G1 mostram crianças desnutridas, uma criança de 1 ano e 9 meses aparece pesando 5,3kg, peso médio de uma criança de três meses, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Outra traz uma criança de 4 anos com 6,7 kg, o mesmo peso de um bebê de cinco meses. Numa terceira, um menino franzino de 11 anos tem apenas 15,4 kg, pouco mais do que deveria pesar uma criança de 2 anos, segundo a OMS.

Na última terça-feira (9/1), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre o tema durante reunião ministerial, e destacou que o Brasil não pode "perder a guerra" contra o garimpo ilegal na Terra Yanomami. O governo anunciou a criação de uma coordenação nacional, com sede em Boa Vista, que reunirá todos os órgãos envolvidos na proteção da floresta e dos povos originários.

O objetivo da coordenação é restabelecer a rotina das comunidades, sem a presença de invasões do garimpo ilegal. Lula afirmou que a situação dos indígenas é considerada uma "questão de Estado" e anunciou a presença permanente das Forças Armadas e da Polícia Federal na região, juntamente com investimentos de R$ 1,2 bilhão em "ações estruturantes" para 2024.

Na reunião, foi anunciada a instalação do espaço denominado como Casa de Governo, com a indicação de um coordenador das ações que deve ficar em Roraima para gerenciar presencialmente o conjunto de medidas que assegurem a proteção dos indígenas e a implementação de uma série de ações permanentes na região.

Vão compor a estrutura da Casa de Governo órgãos como a Funai, o Ministério dos Povos Indígenas, o Ministério do Meio Ambiente, a Polícia Federal, a Abin, a Polícia Rodoviária Federal, o Ibama, o Ministério dos Direitos Humanos, o Ministério da Educação, entre outros.

Na época do decreto de situação de emergência, Lula classificou a situação das ianomâmis como um "genocídio". A Polícia Federal desarticulou o esquema de logística dos garimpeiros ilegais. A ação resultou em 175 prisões em flagrantes e na apreensão de bens no valor de R$ 589 milhões.

O Ministério da Saúde informou que em 2023 investiu mais de R$ 220 milhões para reestruturar o acesso à saúde dos indígenas da região, equivalente a 122% maior que o ano anterior. Durante o ano foram registrados mais de 21 mil atendimentos de saúde, sendo que 307 crianças foram diagnosticadas com desnutrição grave ou moderada.

O órgão acrescenta que, com a adoção de diversas ações emergenciais, foi possível garantir a recuperação dos indígenas com graves problemas de saúde e desnutrição. “Após a operação emergencial, o Ministério da Saúde vem reformando, ampliando e equipando unidades de saúde no território para prover um melhor cuidado à saúde da população indígena. A pasta também investe na ampliação da telessaúde no território para expandir a capacidade de atendimentos.”

A Secretaria de Saúde do Estado de Roraima esclareceu que os territórios indígenas são gerenciados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde. O órgão destacou que “em 2022, ao todo, 390 indígenas ianomâmis receberam atendimento médico no Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento, da rede estadual de saúde pública. Em 2023, esse número foi de 729 atendimentos, em razão da crise sanitária indígena.”

Procurado, o Ministério da Defesa não se manifestou sobre o caso. Em 2023 o órgão participou do apoio logístico e distribuição de alimentos.

O Ministério dos Povos Indígenas não se manifestou sobre o caso até o fechamento da reportagem.

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