O ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, garantiu, ontem, que o objetivo do governo federal, ao estabelecer o núcleo de proteção aos ianomâmis, em Boa Vista, é estimular a produção autônoma dos indígenas, com projetos de qualificação da produção agrícola e da pesca de subsistência — e a eventual comercialização do excedente da produção. Ele projeta que o governo federal conseguirá superar o estado de emergência na região.
"A gente vai dar um salto, saindo dessa fase de medidas emergenciais, ampliando a capacidade de produção, trazendo apoio para as tradições dos povos indígenas, garantindo uma ação estruturada com a Casa do Governo que possa se integrar com os estados e os municípios", disse Dias, à saída da reunião no Palácio do Planalto.
Ao fazer um balanço das ações realizadas junto aos ianomâmis, até agora, ele destacou que a ação integrada com os ministérios dos Povos Indígenas e do Desenvolvimento Agrário, mais a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), permitiu que o Desenvolvimento Social entregasse "em Roraima e no Amazonas de 98 mil cestas básicas e cerca de 30 mil toneladas de alimentos comprados pelo programa de aquisição de alimentos para atender ao povo ianomâmi, com a entrega de até 8 mil cestas de alimentos por mês".
Dias afirmou que o governo ainda tem alimentos estocados, que serão distribuídos pelas Forças Armadas pelos próximos três meses. "Vamos prosseguir disponibilizando cerca de 35 mil cestas básicas em estoque nas unidades distribuidoras para manter o nível de atendimento nas comunidades e dos (indígenas) que estão nas cidades", assegurou.
O Ministério do Desenvolvimento Social repassará 12,5 mil kits para produção de comida pelos indígenas, além de instalar nas aldeias 1.875 casas de farinha — nas quais a mandioca é processada artesanalmente. Também haverá estímulo para que os indígenas ampliem a produção de milho, aves e frutas.
Comitiva encontra o horror
Uma das primeiras medidas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou, assim que assumiu o governo, em janeiro do ano passado, foi determinar uma ação emergencial para salvar o povo ianomâmi de uma catástrofe humanitária provocada pela invasão de mais de 40 mil garimpeiros nas terras indígenas de Roraima, que abrigam cerca de 30 mil indivíduos, em 386 aldeias. Imagens de crianças e adultos famélicos, desnutridos e doentes correram o mundo e provocaram uma enxurrada de críticas ao governo brasileiro, acusado de leniência com os invasores ao longo dos quatro anos da presidência de Jair Bolsonaro.
Ainda em janeiro de 2023, Lula decretou estado de emergência em saúde em Roraima. Em 2022, 99 crianças ianomâmis morreram por falta de comida e atendimento básico de saúde. A malária, doença endêmica na Região Norte, foi responsável por quase 22 mil casos na Terra Indígena Yanomami, em 2021, o maior número da série histórica do Ministério da Saúde. O aumento vertiginoso de casos coincidiu com o avanço do garimpo ilegal na reserva.
“Se alguém me contasse que em Roraima tinha pessoas sendo tratadas dessa forma desumana, como vi o povo ianomâmi aqui, não acreditaria. O que vi me abalou. Vim aqui para dizer que vamos tratar nossos indígenas como seres humanos”, desabafou Lula, na visita que fez a Roraima, na primeira viagem oficial como presidente. “Posso dizer que não vai mais existir garimpo ilegal. E sei da dificuldade de tirá-lo. Se tentou outras vezes, mas eles (os exploradores) voltam”, prometeu Lula, à época.
Depois dessa visita, o governo iniciou uma ampla operação para socorrer as populações indígenas e combater os invasores dos territórios protegidos. Com apoio das Forças Armadas, agentes da Polícia Federal (PF) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desativaram acampamentos e pistas de pouso usadas pelo garimpo ilegal, e destruíram centenas de equipamentos, como balsas para dragagem de rios, escavadeiras e caminhões.
De acordo com relatório da Hutukara Associação Yanomami, que monitora a terra indígena por meio de imagens de satélite, nos quatro anos do governo Bolsonaro, a área devastada pelo garimpo cresceu 309%. Mais de 5 mil hectares de mata foram devastadas no período. Os números foram publicados no relatório Yanomami sob ataque: garimpo na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo.
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