O pedido de CPI na Câmara de São Paulo protocolado pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil) causou uma onda de indignação, em função de ele querer investigar supostas organizações não governamentais (ONGs) "que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a região da Cracolândia". Uma das pessoas que seriam intimadas a depor no colegiado, caso seja instalado, é o padre Julio Lancellotti, conhecido pelo trabalho que faz junto à população de rua.
De políticos de esquerda aos de direita, a possibilidade de uma CPI ser utilizada para constranger o religioso foi rechaçada com veemência. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição em outubro, conversou por telefone com padre Julio e com dom Odilo Scherer, cardeal arcebispo metropolitano de São Paulo. Ele tentou tranquilizá-los a respeito da eventual abertura de CPI.
Ao mesmo tempo, o vereador Fabio Riva (PSDB), líder do prefeito na Câmara, assegurou que uma possível convocação do religioso "extrapola" o objeto do pedido da CPI. "O objeto é investigar as entidades que recebem dinheiro público para fazer algum tipo de trabalho no centro de São Paulo. Se a entidade do padre Julio Lancellotti não tem verba pública, não entendo o motivo da convocação. Extrapola o pedido", disse Riva, que assinou o requerimento para a instalação do colegiado.
O vereador Thammy Miranda (PL) foi outro que recebeu duras críticas, nas redes sociais, por assinar o requerimento de abertura da comissão. Mas, em vídeo publicado ontem, salientou que o requerimento para a comissão não cita o nome do padre Julio — e que retiraria a assinatura.
"Tenho admiração, carinho e gratidão pelo padre Lancellotti, que é exemplo para muitos brasileiros de solidariedade e amor ao próximo", disse. Vereadores como Sidney Cruz (Solidariedade) e Xexéu Tripoli (PSDB) também afirmara que não apoiarão mais a CPI.
Defesa
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, saiu em defesa do religioso em publicação no X (antigo Twitter). "Graças a Deus a gente tem figuras como o padre Julio, na capital de São Paulo, que há muitos e muitos anos dedica a sua vida para tentar dar um pouco de dignidade, respeito e cidadania às pessoas em situação de rua. Que dedica sua vida a seguir o exemplo de Jesus. Seu trabalho e o da Diocese de São Paulo são essenciais para dar algum amparo a quem mais precisa", destacou.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, por sua vez, frisou que as ações do padre Julio servem como inspiração. "Inspira, há 40 anos, aqueles que devotam suas vidas a acolher as irmãs e os irmãos brasileiros em situação de rua. Seu trabalho junto à Arquidiocese de São Paulo é referência em todo o país", afirmou.
Padre Julio, porém, disse reconhecer a legitimidade da implantação de uma CPI, mas negou ter ligação ONGs. "O objetivo dessa (CPI) é a questão da política pública com pessoas dependentes químicas, principalmente em área de cena de uso, que são pessoas em situação de rua. Quem executa essas políticas são OSCs (organizações da sociedade civil) com o poder público. Não pertenço a nenhuma OSC", salientou.
A Arquidiocese de São Paulo divulgou nota de repúdio à CPI e disse acompanhar o caso com perplexidade. "Padre Julio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade", diz o documento.
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