Racismo

MPF pede condenação do influenciador Júlio Cocielo por crime de racismo

Cocielo foi acusado pelo órgão de realizar "racismo recreativo" via Twitter. Ação irá agora para julgamento

O Ministério Público Federal pediu nesta quarta-feira (3/1) a condenação do influenciador Júlio Cocielo pelo crime de racismo, devido a publicações realizadas no perfil dele no Twitter (agora chamado de X) entre 2011 e 2018. O processo corria em sigilo desde dezembro passado, quando passou a ter tramitação pública. Agora, Cocielo deve ir para julgamento e, se condenado, pode pegar até cinco anos de prisão por cada postagem analisada no processo.

De acordo com o MPF, foram avaliadas nove postagens em que o influenciador teria realizado "racismo recreativo". “Ainda que o réu seja humorista, não é possível vislumbrar tom cômico, crítica social ou ironia nas mensagens por ele publicadas. Pelo contrário, as mensagens são claras e diretas quanto ao desprezo do réu pela população negra”, disse o procurador da República João Paulo Lordelo, responsável pela ação.

O caso teve início durante a Copa do Mundo de 2018, quando Cocielo publicou que o jogador francês Killian Mbappé "conseguiria fazer uns arrastão top na praia hein". Com a repercussão do comentário, o influenciador apagou a postagem, bem como outros 50 mil tweets, e publicou um pedido de desculpas — este citado pelo MPF. O arrependimento de Cocielo foi interpretado pelo Ministério Público como um sinal da "intenção deliberada de Cocielo em praticar os crimes quando postou os conteúdos no Twitter."

"A gente só precisa se informar. No meu caso, a minha ignorância foi combatida com conhecimento (...) Sem querer, espalhei o ódio", disse Cocielo em 2018.

Outros dois tweets são citados no processo: “o Brasil seria mais lindo se não houvesse frescura com piadas racistas, mas já que é proibido, a única solução é exterminar os negros” e “nada contra os negros, tirando a melanina…”.

Em 2021, a denúncia havia sido apresentada pelo Ministério Público de São Paulo à Justiça estadual, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo rejeitou a acusação a Cocielo. No entanto, no ano seguinte o caso foi repassado à competência nacional, passando à reponsabilidade do Ministério Público Federal. 

Em 15 de dezembro, o juiz Rodiner Roncada acatou o pedido do MPF de tornar pública a ação, que até então tramitava em segredo de justiça. Segundo o MPF, o influenciador responde à Lei do Racismo ( 7.716/89) e pode pegar pena de prisão de até cinco anos por cada postagem, considerando-se o agravante de as mensagens terem sido vinculadas em uma rede social.

A defesa de Cocielo ainda não se pronunciou. O Correio tenta contato com a assessoria do influenciador, e a reportagem será atualizada em caso de resposta.

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