Santa Catarina

Entenda como gás vazou dentro da BMW e matou jovens em Balneário Camboriú

Perito da Polícia Civil de Santa Catarina afirma que não houve culpa da BMW; carro original foi alterado para "turbinar" motor

Modificações foram a causa da morte dos jovens mineiros  -  (crédito: PCSC/Divulgação)
Modificações foram a causa da morte dos jovens mineiros - (crédito: PCSC/Divulgação)

A causa da morte dos jovens mineiros encontrados dentro de uma BMW em Balneário Camboriú, em 1º de janeiro, foi por asfixia devido a intoxicação por monóxido de carbono, gerado a partir de alterações irregulares no escapamento do veículo. A informação foi divulgada em coletiva da Polícia Civil de Santa Catarina (PCSC), nesta sexta-feira (12/1). 

De acordo com o perito perito Luiz Gabriel Alves de Deus, o problema ocorreu nas alterações feitas na BMW 320i M Sport, ano 2022 original, na parte inicial do sistema de escapamento, que liga o motor à parte inferior do veículo, com o catalisador, equipamento responsável por neutralizar os gases poluentes e transformá-los em compostos seguros para serem liberados na atmosfera.

Foi verificado que o catalisador foi modificado por um equipamento caseiro, chamado de downpipe, que proporciona maior vazão do fluxo de gases, aumentando a rotação da turbina e assim conseguindo gerar mais potência para o carro.

 

equipamento em um carro

Catalisador foi modificado por um equipamento caseiro, sem restrições e livres, chamada de downpipe

PCSC/Divulgação

Outra alteração, segundo o perito, foi na porção média do escapamento, gerando um caminho alternativo para os gases de escape, sem passar pelos abafadores, ocasionando maior ruído para o veículo.

As últimas alterações foram na parte traseira do veículo, que não tinha uma peça de silenciador do escapamento e um chip de potência perto do motor do veículo. “Essas modificações geram maior ruído e aumento de potência. São alterações com institutos de maior apelo esportivo”, explica o policial. 

O downpipe foi a parte de maior interesse da PCSC. Segundo o perito, a ausência de fixação e fragilidade da solda do downpipe foi o motivo que causou a vazão dos gases. Luiz Gabriel afirma que a solda foi rompida, causando vazamento do monóxido de carbono por baixo do veículo, pelas laterais, e foi succionado pelo ar-condicionado, que levou para o interior do veículo com a mesma quantidade que sai do motor, cheio de poluentes e alto teor de monóxido de carbono. 

Ele completa que foram realizadas duas medições no interior do veículo para avaliar a concentração de monóxido de carbono no ar, uma com o ar-condicionado ligado e outra com ele desligado. O primeiro resultado constatou que, depois de 16 minutos, o aparelho atingiu o limite de medição de 1000ppm  (partes por milhão), um nível que causa inconsciência e morte. Já com o ar-condicionado desligado o resultado deu zero, nenhum gás dentro do veículo. 

O perito ressaltou também que o carro estando parado acelerou a morte dos jovens, já que a circulação de ar tende a fazer o escoamento desses gases e, caso o veículo esteja sem a circulação de ar, o gás não dispersa. "O rompimento da peça, o grande volume de monóxido extravasado e o veiculo em repouso por tempo prolongado acabou resultando nessa atmosfera tóxica", ressalta.    

O mecânico que fez a alteração e customização da BMW, onde os quatro jovens morreram intoxicados será ouvido nos próximos dias pela Polícia Civil para conclusão do inquérito policial e pode responder pela mortes.   

Relembre o caso

Quatro jovens morreram dentro de um carro BMW estacionado na rodoviária de Balneário Camboriú (SC), na madrugada de 1º de janeiro. As vítimas foram identificadas como Gustavo Pereira Silveira Elias, de 24 anos; Tiago de Lima Ribeiro, 21; Nicolas Oliveira Kovaleski, 16; e Karla Aparecida dos Santos, 19. Todos eram de Paracatu, região Noroeste de Minas. 

Eles faziam parte de um grupo de familiares e amigos de Minas Gerais. Parte do grupo havia se mudado há um mês para São José (SC), cidade da Grande Florianópolis, e convidou amigos para passar o Réveillon em Balneário Camboriú. 

O restante do grupo havia retornado para casa, enquanto os quatro jovens foram à rodoviária para buscar Giovana, namorada de Gustavo, que estava chegando de ônibus à cidade. Ela relatou à polícia que, ao encontrar os amigos, eles comentaram estar com mal-estar, enjoo, vômito e tremedeira.

Enterro dos jovens

O enterro dos jovens aconteceu em 4 de janeiro. Gustavo Pereira foi sepultado às 8h30 no cemitério da Colina, e Nicolas Kovaleski, de 15 anos, às 9h30 no cemitério Santa Cruz, em Paracatu. 

Os corpos de Tiago de Lima Ribeiro, de 21 anos, e da namorada dele, Karla Aparecida dos Santos, de 19, foram sepultados também na manhã de 4 de janeiro, em Lagoa Formosa, no Triângulo Mineiro.

Customização deve ser aprovada no Detran

A maior parte das mudanças nas características dos carros deve ser aprovada pelos Detran (Departamentos Estaduais de Trânsito). Isso inclui mudanças na potência do motor, pintura da carroceria, rebaixamento de suspensão, blindagem ou uso de GNV (Gás Natural Veicular), por exemplo. Só após a vistoria e a liberação é permitido circular com o veículo. 

No caso dos escapamentos, o proprietário deve observar as regulações sobre o grau de emissão de poluentes e de ruído. Quem desrespeitar os parâmetros previstos em resoluções do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) incorre em infração grave, com multa de R$ 195,23 e risco de ter o carro confiscado.

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postado em 12/01/2024 18:19 / atualizado em 12/01/2024 18:20
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