Na premissa da sabedoria popular "quem tem fé, vai a pé", milhares de baianos e turistas lotaram as ruas de Salvador, na manhã desta quinta-feira (11/1), para celebrar a Lavagem de Senhor do Bonfim. Santo católico, que representa Jesus Cristo, o Bonfim também é cultuado por devotos do candomblé e outras religiões de matrizes africanas. Nesta crença, o Senhor do Bonfim é representado pela figura do orixá Oxalá.
A relação entre a crença e a disposição física de "ir a pé" é feita porque, na festa conhecida como a "Lavagem do Bonfim", os devotos do santo e de Oxalá caminham da igreja da Conceição da Praia, na Baía de Todos os Santos, próximo ao Elevador Lacerda, até a Basílica do Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada. Essa distância tem cerca de oito quilômetros.
Hoje, a capital soteropolitana apresentou tempo nublado e com temperatura de 25°. Para este ano, a prefeitura montou um esquema para disponibilizar bebedouros e carros-pipa durante o percurso até o Bonfim. De acordo com o município, há oito bebedouros com seis torneiras em pontos estratégicos da caminhada, além de cinco carros-pipa disponíveis ao longo do trajeto.
O percurso do cortejo do Bonfim será animado por grupos de frevo, fanfarras e batuques. Além de devotos do santo católico e de Oxalá, a caminhada atrai cidadãos de outras crenças e até pessoas que não seguem religião. Apesar da miscelânea, a cor do traje é uma só: todos que seguem à Colina Sagrada usam roupas brancas. Isso porque o branco representa Senhor do Bonfim, no Catolicismo, e Oxalá, no Candomblé.
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Na igreja do Bonfim
Após a chegada da caminhada para a igreja do Bonfim, o padre Edson Menezes da Silva, reitor da Basílica Santuário, transmitirá da janela central do templo uma mensagem e concederá a todos uma bênção, apresentando a imagem do Senhor do Bonfim. Também será realizado um momento musical, em que os fiéis — além de descansar da extensa caminhada — fazem orações, pedidos, promessas e agradecimentos ao Senhor do Bonfim.
Como surgiu a Festa do Bonfim
A tradição do culto a Senhor do Bonfim ocorre desde quando a imagem do santo foi levada a Salvador pelo marinheiro português Theodósio Rodrigues de Faria, no século XVIII. Ele e suas embarcações passaram ilesos a uma tempestade marítima. Diante disso, ele prometeu uma imagem do Senhor do Bonfim e da Nossa Senhora da Guia para o Brasil. Ao trazer a imagem para cá, foi construída uma igreja com o nome do santo.
Quando Theodósio levou a Salvador a imagem, suas embarcações traziam pessoas escravizadas, oriundas do continente africano, que construíram a basílica.
Na época, as mulheres escravizadas lavavam a parte interna da igreja com água de cheiro em um culto a Oxalá, até que, em 1889, os párocos proibiram a entrada delas na igreja. Elas não abandonaram a tradição e começaram a lavar as escadarias da basílica — prática que acontece até os dias de hoje e que é chamada de "Lavagem das Escadarias do Bonfim".
Com o passar o tempo, o culto a Senhor do Bonfim foi ganhando popularidade e, atualmente, é uma das manifestações mais cultuadas da capital baiana.
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