Paracatu — A pequena Paracatu deu, ontem, o último adeus aos quatro jovens encontrados mortos supostamente por intoxicação em uma BMW, em Balneário Camboriú (SC), em 1º de janeiro. Gustavo Pereira Silveira Elias, de 24 anos, e Nicolas Oliveira Kovaleski, de 16, foram sepultados na cidade, enquanto Tiago de Lima Ribeiro, de 21 — cuja mãe era dona do veículo no qual aconteceu a tragédia —, e a namorada, Karla Aparecida dos Santos, de 19, foram encaminhados para Lagoa Formosa (MG), na região do Alto Paranaíba, de onde são as famílias de ambos.
O município de 94 mil habitantes busca, agora, a cura para a dor de viver duas tragédias seguidas em pouco menos de 10 dias. Em 23 de dezembro, uma mulher e os filhos, de dois e 11 anos, morreram depois que o carro da família foi arrastado por uma enxurrada, em uma forte chuva que atingiu a cidade.
O pai, que segundo informações do Corpo de Bombeiros, dirigia o veículo, mas conseguiu escapar. Ele teria tentado atravessar uma área alagada no bairro Santana, quando o carro foi levado pela força das águas — e só parou, totalmente submerso, na calha principal do Córrego Pobre.
As equipes de resgate encontraram a mãe e o filho mais velho dentro do veículo, enquanto o corpo do mais novo foi levado pelo curso d'água. "Ficamos muito tristes, decretamos luto oficial no primeiro dia do ano. Amanhecemos para o ano de 2024 com essa notícia tão triste, desses quatro jovens, que chocou o país. Tivemos uma chuva forte, com vítimas. Foram dias muito difíceis aqui", disse o prefeito Igor Santos (União Brasil) ao Correio.
Sobre os jovens que morreram no litoral catarinense, três deles vinham, segundo o prefeito, de famílias carentes, cadastradas no CadÚnico — que garante o acesso a programas do governo federal, como o Bolsa Família. Procurada pelos parentes das vítimas, a prefeitura ajudou a custear o traslado dos corpos.
Uma dessas famílias é a de Nicolas. A mãe do adolescente, Dalila Barbosa de Oliveira, afirmou que o sonho do rapaz era comprar uma casa para ela e para os irmãos. "Meu filho, por ser muito inteligente, pegou esse serviço para trabalhar com marketing. Falou comigo: 'Mãe, vou dar à senhora uma casa'. Mas veio a falecer", disse, emocionada.
Dalila afirmou que foi contra a ida de Nicolas, que era menor de idade, para Santa Catarina. Diz até que recorreu à polícia para tentar impedi-lo de viajar.
"Florianópolis era o mundo do marketing e ele disse que ia para lá para realizar seus sonhos. Não queria que morasse com essas pessoas, nem mesmo aqui em Paracatu. Tentei chamar a polícia para ele não ir embora. Deus me deu um brilhante, mas o perdi. Criei meu filho na honestidade. Meu coração está partido, ferido por causa disso", lamentou.
A tragédia tornou-se o principal assunto de Paracatu e moradores não se furtam em expor desconfianças com as conclusões preliminares das mortes. Muitos questionam a versão de que os quatro foram intoxicados por monóxido de carbono saído do escapamento do carro, que teria entrado no habitáculo por conta de uma alteração no sistema de exaustão de gases do motor. "Não acredito que foi uma fatalidade. Isso não encaixa", disse Dalila, inconformada, durante o enterro de Nicolas.
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