SOCIEDADE

Três a cada 10 vítimas da violência no Brasil são jovens

Pessoas entre 15 e 29 anos são as mais afetadas pela violência no país, de acordo com relatório publicado pela Fiocruz. Adolescentes mulheres e negras são o maior público agredido

Os jovens são o principal alvo da violência em todas as regiões do país: de 2016 a 2022, 30,15% das vítimas de violência no Brasil tinham entre 15 a 29 anos. É o que mostra o relatório Panorama da Situação de Saúde de Jovens Brasileiros de 2016 a 2022: Intersecções entre Juventude, Saúde e Trabalho, elaborado pela Agenda Jovem Fiocruz e pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, também da Fundação Oswaldo Cruz.

Publicado na segunda-feira (11/12), o documento apresenta análises sobre o adoecimento e a mortalidade da população jovem no país, com base em dados obtidos por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (Datasus). Entre as principais descobertas realizadas pelos pesquisadores, o dossiê aponta que adolescentes de 15 a 19 anos tendem a sofrer duas vezes mais violência do que os jovens de 20 a 29 anos. Mais de 70% das vítimas são mulheres e, entre elas, a maioria é negra.

Para André Sobrinho, coordenador da Agência Jovem Fiocruz e um dos organizadores do documento, os dados demonstram que o Brasil ainda segue estruturas patriarcais e escravocratas. "Os fatores racial e de gênero estruturam desigualdades no país. Quando se fala em meninas que em tese ainda são dependentes dos pais, a situação é ainda mais alarmante. Que tipo de legitimação social permite que o corpo da juventude seja violado?", questiona, em entrevista ao Correio

Acidentes de trabalho

Outro ponto de destaque notado pelos pesquisadores são os acidentes de trabalho. Um terço das ocorrências entre 2016 e 2022 afetou a população entre 15 a 29 anos (33,03%). Em números absolutos,  345,4 mil jovens foram vítimas de acidentes trabalhistas no país. Em 78% dos casos, os atingidos foram homens, o que representa três vezes mais ocorrências do que a de mulheres acidentadas. 

Ademais, um a cada quatro jovens (28%) esteve exposto a algum fator de agravo à saúde no trabalho ao menos uma vez nos 12 meses que antecedem a pesquisa. Para jovens acima de 18 anos, o número sobe para 46,6% — ou seja, quase metade de todos os trabalhadores da faixa etária.

Saúde mental

O adoecimento mental é a principal causa de internação dos homens brasileiros entre 15 a 29 anos, conforme o relatório. Nos anos estudados, as causas deste adoecimento foram esquizofrenia, psicose, uso de múltiplas drogas e outras substâncias psicoativas e uso de álcool.

Por sua vez, as mulheres jovens trabalhadoras foram maioria nas notificações de transtornos mentais relacionados ao trabalho (74%). Entre todos os casos relatados pela juventude com relação à saúde mental no ambiente profissional, destacam-se a sensação de “ansiedade” (22%) e “estresse” (17%). Como mostrado no dossiê da Fiocruz, a metade dos casos (51%) ocasionou a incapacidade temporária dos trabalhadores.

Direitos da juventude

A Lei nº 12.852/13, também conhecida como Estatuto da Juventude, completou 10 anos em agosto e estipula princípios e diretrizes para políticas públicas voltadas aos jovens. Entre os princípios estão a valorização da autonomia dos jovens, promoção de vida segura, da cultura da paz e da não-discriminação, bem como a valorização do diálogo e a convivência com as demais gerações. 

Apesar da existência do estatuto, ainda é preciso compreender a realidade particular da juventude para atendê-la de maneira eficiente, aponta o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz. "Existe uma representação comum de que o jovem é feliz, saudável e cheio de energia. O que o dossiê nos mostra, porém, é que os jovens adoecem e morrem. É necessário compreender realmente como a juventude vive e oferecer serviços voltados às suas necessidades reais", constata.

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