crime organizado

Justiça afasta deputada do Rio de Janeiro por ligação com milícia

PF traz á tona evidências de ligações da parlamentar com grupo criminoso que atua em Campo Grande e Santa Cruz, bairros da Zona Oeste carioca. Inclusive, ela é chamada de "madrinha" em diálogos interceptados

Diálogos mostram que milicianos tratam Lucinha pela alcunha de
Diálogos mostram que milicianos tratam Lucinha pela alcunha de "madrinha" - (crédito: Reprodução/Instagram pessoal)
postado em 19/12/2023 03:55

A deputada estadual Lúcia Helena Pinto de Barros (PSD), a Lucinha, 63 anos, foi afastada, ontem, do mandato que exerce na Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro (Alerj) por determinação do Tribunal de Justiça (TJ-RJ). Ela era o alvo da Operação Batismo, desfechada em conjunto pela Polícia Federal (PF) e pela Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), por suposto envolvimento com a milícia de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.

A quadrilha é uma das milícias mais poderosas e violentas da capital fluminense e domina uma boa parte da Zona Oeste da cidade — sobretudo os bairros de Campo Grande e Santa Cruz. A investigação aponta que Lucinha seria o braço político da organização e é chamada de "madrinha" pelos milicianos.

Como parte da investigação, a Justiça expediu oito mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Lucinha, entre eles a casa em que ela mora, em Campo Grande, e o gabinete na Alerj. A deputada também está proibida de frequentar as sedes da Assembleia Legislativa — tanto o Prédio Tiradentes, onde ocorrem as sessões e as votações, quanto o Alerjão, onde se encontram a maior parte dos gabinetes parlamentares.

Além da deputada, Ariane de Afonso Lima também foi alvo de investigação — ela é assessora parlamentar de Lucinha. O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (PL), se manifestou a respeito da colega pelas redes sociais. "Desejo que a deputada consiga esclarecer no seu juízo probatório a inocência dela. Eu acho que a ampla defesa, o contraditório, tem que prevalecer sempre", afirmou.

Quebras de sigilos telefônicos e telemáticos de suspeitos trouxeram à tona o envolvimento de Lucinha e de Ariane com Zinho e outros integrantes da cúpula da milícia. A deputada é suspeita de interferir na segurança pública do Rio para a soltura de comparsas da quadrilha presos em flagrante.

Interferência

Ela também tentou interferir para mudar o comando do batalhão da Polícia Militar em Santa Cruz, uma das áreas de atuação da milícia, a fim de facilitar a operação do bando. Lucinha também teria vazado informações sobre operações da polícia que iriam capturar milicianos e de atuar na Alerj para favorecer o transporte de vans, controlado pela milícia, na Zona Oeste.

A ação da PF e do MP-RJ é desdobramento da Operação Dinastia, deflagrada em agosto do ano passado e cujo objetivo é capturar o miliciano Zinho e prender pessoas ligadas a ele. Até agora, oito dos comparsas do chefe da quadrilha foram presos.

Lucinha tem longa atuação em defesa dos interesses políticos da Zona Oeste, que vem desde a década de 1980. Ela começou a carreira pública como ativista do Movimento Popular Organizado. A atuação com ações comunitárias a catapultou para a política tradicional, tanto que foi uma das fundadoras do braço do PDT no Rio.

A deputada foi diretora de Habitação da Federação das Associações de Moradores do Estado do Rio de Janeiro (Famerj), no início dos anos 1990. A liderança comunitária alçou Lucinha em sua primeira eleição para a Câmara de Vereadores do Rio, em 1996. Foi eleita vereadora pela primeira vez pelo PSDB.

O Correio procurou a assessoria de Lucinha, mas até o fechamento desta edição não houve qualquer manifestação. (Com Agência Estado)

 

 

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