Lisboa — O estado do Piauí decidiu entrar no mapa internacional do turismo e dos investimentos. Depois de a presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, anunciar a construção de uma usina de hidrogênio verde no estado, dentro de um pacote de investimentos de 2 bilhões de euros (R$ 11 bilhões) em energias renováveis, governo e empresários estão em busca de recursos para incrementar a economia, o emprego e a renda locais.
A estratégia de internacionalização do Piauí envolveu dois dias de intensos contatos com empresários de vários ramos em Portugal. O objetivo foi convencer os donos do dinheiro sobre os potenciais econômicos do estado, que vão muito além do turismo. O governador Rafael Fonteles diz que há várias frentes abertas no sentido de atrair capitais estrangeiros, começando pelo agronegócio. O Piauí faz parte do que se convencionou chamar de Matopiba, a nova fronteira agrícola do país. Há uma demanda enorme por alimentos, e o estado tem condições de suprir parte das necessidades, seja da Europa, seja do restante do mundo.
Mas, segundo o governador, é preciso ampliar o leque de opções para os investidores. Uma das pontas é justamente a economia verde, que abrange o projeto anunciado pela presidente da Comissão Europeia. A empresa croata Green Energy Park, em parceria com a Solaio, maior desenvolvedora de empreendimentos fotovoltaicos da América Latina, vai construir uma usina de hidrogênio verde e amônia em Parnaíba, litoral piauiense, obra que começará no fim de 2024 e deverá estar construída em dois anos, gerando 10 mil gigawatts (GW) de energia.
Toda a produção será exportada pelo Porto de Luís Correia para o terminal de KrK, na Croácia, de onde seguirá para abastecer complexos industriais do Sudeste da Europa. Os países da União Europeia veem no hidrogênio verde uma forma de limpar a matriz energética do continente e, sobretudo, acabar de vez com qualquer dependência do gás produzido pela Rússia. Depois do estouro da guerra dos russos com a Ucrânia, os preços da energia elétrica explodiram no continente, empurrando a inflação para níveis nunca vistos em mais de três décadas.
Há, também, projetos na área educacional e no setor de tecnologia da informação. As escolas públicas do Piauí têm se destacado em todos os exames de avaliação no país. Uma boa formação profissional é premissa básica para os investidores na hora de decidir onde aportar capitais. No caso do turismo, o plano é impulsionar os negócios de micro e pequenas empresas, que são grandes empregadoras. Além de gerar empregos mais baratos, o turismo movimenta uma cadeia enorme da economia.
“Temos muito a aprender com Portugal”, ressalta Fonteles. Até pouco tempo atrás, o turismo representava apenas 7% do Produto Interno Bruto (PIB) português. Agora, a participação já passa de 15%. Na Espanha e na França, chega a 20%. “Tanto o Piauí quanto o Brasil não podem prescindir do turismo como gerador de emprego e renda. Não é possível que o setor represente pouco mais de 2% do PIB brasileiro, atraindo apenas 6 milhões de estrangeiros por ano. Portugal está chegando aos 30 milhões”, complementa.
Segurança e infraestrutura
Tanto o governador quando Glauco Chris Fuzinatto, presidente da Vbrata, especializada em promover o turismo brasileiro na Europa, reconhecem que há uma série de barreiras a serem superadas para ampliar o fluxo de turistas estrangeiros para o Brasil. A mais grave delas, a segurança pública. Há uma visão disseminada entre os europeus da violência urbana que atormenta o país. Portanto, acreditam os dois, é preciso um pacote concreto de ações para combater o crime organizado e resgatar a tranquilidade que o turismo exige.
Outro entrave, reconhece o presidente da Vbrata, é a carestia para se viajar para o Brasil, que está distante da Europa. Um pacote de duas semanas no país, incluindo a passagem aérea, custa entre 3 mil euros (R$ 16,5 mil) e 4 mil euros (R$ 22 mil) por pessoa. É possível, porém, viajar para a Grécia, pelo mesmo período, por 600 euros (R$ 3,3 mil). “Portanto, temos de oferecer um diferencial para os turistas estrangeiros. No caso do Piauí, estamos apostando no turismo de experiência, com todo um charme especial”, destaca.
Também é preciso incrementar a infraestrutura da rede hoteleira, das estradas e dos aeroportos, de forma a tornar as viagens dos turistas mais prazerosas e com rápido deslocamento, o que é vital num país do tamanho do Brasil. “Esse foi um dos motivos de termos levado quase 20 empresários do Piauí para Portugal”, diz Júlio César Filho, superintendente no estado do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Há muitas oportunidades a serem exploradas dos dois lados”, acredita.
Na questão do turismo, o Piauí escolheu suas vitrines: os 66 quilômetros de praias de águas mornas, o Delta do Parnaíba — o único em mar aberto das Américas — e, claro, a Serra da Capivara, com todo o seu acervo espetacular de pinturas rupestres, algo único no mundo. A prefeita de São Raimundo Nonato, Carmelita Castro, garante que a cidade, que fica a 30 quilômetros do parque arqueológico, está preparada para receber turistas mais exigentes, voltados para pesquisas e para a cultura. Ali estão o Museu do Homem Americano e o Museu da Natureza. “Temos um aeroporto muito bem estruturado, com três voos semanais partindo de Recife”, afirma. A meta é, futuramente, ter um voo internacional pousando ali.
Glauco Fuzinatto assegura que o acesso ao Paiuí está muito mais fácil, pois há voos internacional para várias capitais de estados próximos. “É possível fazer conexões a partir de Recife, de Belém do Pará, de Fortaleza e de Salvador”, frisa. Ele ressalta que, entre os europeus, os turistas mais propensos a conhecer o Brasil estão em Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, França e Reino Unido. “Mas é preciso investir em campanhas de publicidade para convencer esse público das belezas que o país, como um todo, oferece”, emenda. O governador do Piauí assinala que, desde que tomou posse, no início deste ano, já participou de seis missões internacionais e fará quantas forem necessárias para promover o seu estado.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br