O percentual de pessoas na extrema pobreza — que sobrevivem com menos de R$ 11,80/dia — caiu quase 6% em 2022, depois de alcançar 9% em 2021. Já o dos considerados pobres, que passam com menos de R$ 20,10/dia, diminuiu 5%. A constatação é da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada ontem.
Apesar das reduções nos percentuais, no ano passado foram registrados 12,7 milhões de brasileiros na extrema pobreza e 67,8 milhões na pobreza. Em todas as regiões do país houve recuo nos indicadores.
Segundo o levantamento, Norte e Nordeste registraram a maior queda na extrema pobreza — -7,2 e -5,9 pontos, respectivamente. O IBGE salienta que essas regiões concentram o maior volume de pessoas nesses dois estratos sociais. Cerca de 55% da pobreza extrema estão no Nordeste, onde estão 27% da população brasileira. Além disso, mais da metade (51%) dos moradores da região vivem em situação de pobreza.
O Centro-Oeste foi o recordista na diminuição da pobreza, com -7,3 pontos. De acordo com o IBGE, essa queda foi ocasionada pelo "dinamismo no mercado de trabalho da região em 2022".
Desigualdade
Quando considerada a questão racial, a desigualdade brasileira fica escancarada: 70% dos pobres e extremamente pobres são pretos e pardos. Entre as pessoas pretas ou pardas, 40% eram pobres — o percentual é duas vezes superior ao da população branca (21%).
A pesquisa considerou alguns contextos sociais e constatou que a pobreza é mais alta nas famílias chefiadas por mulheres pretas ou pardas que são mães solos de filhos menores de 14 anos. Nesse grupo, 72,2% são pobres e 22,6%, extremamente pobres.
A idade dos moradores no domicílio também é um fator agravante na pobreza — onde há crianças é maior. Entre as pessoas com até 14 anos de idade, 49,1% eram pobres e 10% eram extremamente pobres. Na população com 60 anos ou mais, apenas 14,8% são pobres e 2,3% extremamente pobres.
As políticas públicas de distribuição de renda foram as protagonistas da queda da pobreza no Brasil. A participação dos benefícios no rendimento domiciliar das pessoas em extrema pobreza chegou a 67% — a renda advinda do trabalho teve participação de apenas 27,4% no orçamento mensal desse grupo.
Nos domicílios considerados pobres, os benefícios de programas sociais representavam 20,5% do total de rendimentos do lar. Já a renda oriunda do trabalho foi responsável por 63,1%.
Se benefícios como Bolsa Família e Auxílio Emergencial não existissem, o IBGE estimou que haveria 80% mais pessoas em extrema pobreza, o que elevaria o percentual de 5,9% para 10,6%. Mas, para economista da FGV Social, Marcelo Neri, esse índice poderia ser ainda maior, de 14%.
"Os auxílios foram muito importantes, mas estão em sintonia com o calendário eleitoral. De fato, saímos do pior nível de pobreza desde o começo da série. Isso cria uma certa fragilidade, mas, pelo menos, [os programas] continuam em 2023. Há de se pensar na inclusão produtiva das pessoas para ter um combate à pobreza mais permanente. O grande percalço é o mercado de trabalho, não só agora, mas nos últimos 30 anos", salientou.
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