colapso em maceió

Afundamento de mina em Maceió vira briga entre grupos políticos

Depois de receber o prefeito da capital alagoana para tratar do desastre ambiental causado pela Brasken, presidente em exercício do Senado, Rodrigo Cunha, ataca CPI proposta por Renan Calheiros

Vizinhança abandonada no Mutange, sob risco de afundamento. Desastre ambiental, agora, é razão de conflito entre grupos políticos   -  (crédito: Gésio Passos/Agência Brasil)
Vizinhança abandonada no Mutange, sob risco de afundamento. Desastre ambiental, agora, é razão de conflito entre grupos políticos - (crédito: Gésio Passos/Agência Brasil)
postado em 05/12/2023 03:55

O afundamento gradativo do solo no bairro de Mutange, em Maceió, intensificou o confronto entre os dois principais grupos políticos do estado — o do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o do senador Renan Calheiros (MDB-AL). E os reflexos disso chegaram ao Congresso.

Ontem, o presidente do Senado em exercício, Rodrigo Cunha (Podemos-AL), recebeu o prefeito da capital alagoana, João Henrique Caldas (o JHC), para discutir a crise da extração de salgema pela Braskem — responsável pelo afundamento de parte da cidade. Depois do encontro, o parlamentar criticou a criação da CPI para investigar a empresa gestora da mina 18, que causou o desastre ambiental em Maceió.

Segundo o senador, que é aliado de Lira em Alagoas, assim como JHC, a CPI "surgiu de maneira viciada". Para ele, o colegiado, da forma que foi proposto, não daria "clareza" aos atos de omissão que levaram ao risco de colapso do bairro na capital alagoana.

Renan é o propositor da CPI. De acordo com Cunha, o emedebista tem ligações com a Braskem. "Começam a gerar dúvidas de quem será o investigado e de quem será o investigador. A propositura, da forma em que foi colocada, surgiu de maneira viciada", criticou.

Aliado do governador de Alagoas, Paulo Dantas, Renan é acusado por Cunha de estar por trás de uma licença ambiental que vem "sendo renovada constantemente pelo estado de Alagoas". "O governador, à época, era o Renan Filho, que é senador, hoje ministro do Transporte, e filho do Renan Calheiros, que é propositor desta ação", disse o presidente em exercício do Senado.

Segundo Cunha, Renan também foi presidente da extinta Salgema, adquirida pela Braskem, e que, desde 1970, explora o mineral na área urbana de Maceió. "Um outro fator relevantíssimo é que o próprio senador Renan Calheiros foi apontado pela Polícia Federal como tendo solicitado, e recebido, R$ 1 milhão para beneficiar a empresa Braskem. Então, a figura entre investigado e investigador se confunde nesse meio da propositura da CPI e dos reais objetivos", atacou Cunha.

Pelas redes sociais, Renan garantiu que a comissão de inquérito tem caráter "técnico e objetivo, para averiguar, com base nos documentos, a responsabilidade jurídica nas reparações". Ele afirmou, ainda, que caso o Senado não dê andamento à instalação da CPI, recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao mesmo tempo, o prefeito de Maceió — pré-candidato à reeleição em 2024 — conta com a ajuda Lira na cobrança de ajuda do governo federal para contornar o desastre ambiental. Em vídeo publicado nas redes, o deputado pediu ao presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, a edição de uma medida provisória para enfrentar os problemas causados pelo afundamento do solo.

Aliados de Lira são contra a CPI da Braskem — que tem todas as assinaturas para ser instalada — e alegam que Renan teria a intenção de fazer dela um palanque eleitoral. O requerimento foi lido em plenário pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O próximo passo é a indicação de representantes dos partidos para compor o colegiado.

Velocidade menor

Apesar de o afundamento do solo da mina 18 vir reduzindo a velocidade desde domingo, o coordenador do centro de monitoramento da Defesa Civil de Maceió, Hugo Carvalho, afirmou que o órgão permanece em alerta máximo, pois o risco de colapso da área se mantém alto. Ontem, o monitoramento apontava que o deslocamento vertical apresentava ritmo de 0,3cm/h a 0,4cm/h, o mesmo registrado no dia anterior.

Esses dados representam desaceleração, se comparados aos verificados sábado (0,7cm/h) e sexta-feira (2,6 cm/h). Para a Defesa Civil, a redução da velocidade do afundamento pode ser uma acomodação do solo, o que não afasta a iminência de desabamento. O afundamento da área a velocidade chegou a 5cm/h nos momentos mais críticos. (Colaboraram Marina Dantes e Vitória Torres, estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi)

 

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