RESGATE

"Eu não medi esforços", diz pescador premiado por salvar 35 pessoas

O pescador, José Cardoso Lemos, fala ao Correio sobre a coragem e emoção no momento do naufrágio, que o tornou herói internacionalmente reconhecido

O pescador, José Lemos Cardoso, resgatou 35 pessoas e 9 corpos no naufrágio da lancha
O pescador, José Lemos Cardoso, resgatou 35 pessoas e 9 corpos no naufrágio da lancha "Dona Lourdes II" - (crédito: Agência Marinha de Notícias)
postado em 01/12/2023 19:30 / atualizado em 06/12/2023 14:30

Na rotina dos ribeirinhos do Pará, onde rios e mares entrelaçam histórias de homens simples, surge a história do pescador José Cardoso Lemos, de 49 anos, cujo ato heroico ecoou internacionalmente, alcançando reconhecimento na premiação da Organização Marítima Internacional (IMO).

Em evento da IMO, em Londres, nesta segunda-feira (27/11), José foi reconhecido internacionalmente com um Certificado de Louvor, além de receber cumprimentos de comandantes da marinha.

José se lembra bem daquele dia, que começou como qualquer outro em que ia pescar nas águas próximas à Ilha de Cotijuba, junto com seu filho e sobrinho, mas tornou-se um resgate emocionante. Na manhã de 8 de setembro de 2022, ao ser informado sobre o naufrágio da lancha "Dona Lourdes II", o pescador, sem hesitar, transformou sua modesta embarcação de pesca em um instrumento de salvar vidas. O seu equipamento de pesca foi usados para proporcionar espaço aos sobreviventes, realizando duas viagens para resgatar aqueles que tentavam sobreviver.

A experiência de resgatar 35 pessoas e 9 corpos, incluindo a vida de uma criança de cinco anos que gritava pela avó, revela a mistura de sentimentos em relação ao momento de desespero e heroísmo, desde a tristeza pelas vidas perdidas até a alegria de ter feito o que achava certo. Ao Correio, José conta emocionado que, infelizmente, na terceira tentativa de resgate, encontrou os demais já sem vida.

“Foi uma cena muito forte, eu nunca tinha visto tanta gente pedindo socorro. Eu não medi esforços, deixei meu material de lado e comecei a socorrer quem estava pedindo ajuda. É um sentimento de tristeza e alegria, quando eu toco nesse assunto a emoção bate, principalmente, sobre a criança que eu resgatei que a avó faleceu. A mãe dele me agradeceu muito, me chamam de herói”.

Com o objetivo de prevenir tragédias, como a do naufrágio, a Marinha do Brasil enfatiza a importância da compreensão e aplicação das medidas de segurança. A ênfase recai no uso adequado dos coletes salva-vidas, visto que algumas vítimas da tragédia perderam a vida por afogamento, em parte devido ao uso incorreto desses dispositivos. Além disso, alguns coletes estavam vencidos, agravando a situação.

Nas palavras emocionadas do pescador, emerge um momento marcado pela gratidão em sua vida. “É uma emoção muito grande" a surpresa diante do convite, que conecta um simples pescador ao reconhecimento global, para atravessar as fronteiras por uma premiação e deixar a rotina moldada pela pesca diária que, até então, se limitava ao Pará.

“Eu nunca tinha saído do Pará, apenas pela pesca. A minha rotina era sustentar minha família indo para o mato todo dia, é isso que a gente faz, pescar. Às vezes voltamos, outras não”, expõe.

Prêmio de bravura

O pescador, José Lemos Cardoso, recebe o prêmio IMO por bravura
Em premiação da Organização Marítima Internacional, em Londres, o pescador recebe um Certificado de Louvor por sua bravura (foto: Agência Marinha de Notícias)

A IMO, anualmente homenageia aqueles que, enfrentando o perigo iminente, demonstram coragem para salvar vidas ou proteger o ambiente marinho. Esse ato de bravura, protagonizado por um ribeirinho que enfrentou a tragédia, não passou despercebido.

A Marinha do Brasil reconheceu a coragem de José, indicando-o para a premiação. A Tenente da Marinha Kizia Fonseca presta homenagem a José, descrevendo o pescador como um "verdadeiro herói", não apenas para a sua comunidade, mas agora para o mundo.

“No dia do acidente, a marinha foi informada, mas quando chegou no local o senhor José, junto com outros pescadores, já tinham resgatado todo mundo. A marinha não chegou a resgatar ninguém com vida. O senhor José é um verdadeiro herói”, observa. “Muitos comandantes falaram que ele fez o que eles passaram a vida toda estudando e trabalhando para tentar fazer. O senhor José tem virtudes marinheiras, ele recebeu um chamado do coração e resgatou todo mundo que conseguiu. Um grande exemplo, é um orgulho termos indicado a história dele para o prêmio”, finaliza a Tenente.

José declara que não possui mais forças para o trabalho, não apenas por sequelas físicas resultantes de seus diversos acidentes, mas também pela carga do esforço diário envolvido na atividade pesqueira. Assim, o pescador que se tornou herói, eterniza seu nome entre os homens humildes que deixam uma marca de coragem na história, agradecendo por seu reconhecimento global.

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