Enquanto o desmatamento no bioma da Amazônia apresentou queda nos últimos meses, o desmatamento no Cerrado avança. Pelo quarto ano seguido, o bioma perde espaço. Desta vez, foram destruídos 11.011,7 km² de vegetação nativa entre agosto de 2022 e julho de 2023. Esse número corresponde a quase duas vezes o tamanho do Distrito Federal e representa um aumento de 3% em relação ao apurado no período anterior (10.688 km², quando a destruição do cerrado bateu recorde).
O levantamento é do projeto Prodes Cerrado, mantido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas.
A maior parte do desmatamento no bioma se concentra em áreas privadas usadas para abertura de terras para agricultura, segundo os dados apresentados pelo ministério. Ou seja, 63% do desmatamento ocorreu em áreas particulares. O estado do Maranhão registrou a maior área de vegetação nativa suprimida (2.928 km²), seguido pelo Tocantins (2.233 km²), pela Bahia (1.971 km²) e pelo Piauí (1.127 km²).
Os estados que apresentaram queda no desmatamento foram Goiás (18%), Mato Grosso (18%), Minas Gerais (12%) e Piauí (5%). Na outra ponta, as unidades da Federação com maior crescimento no desmatamento foram Bahia (38%), Mato Grosso do Sul (14%), Tocantins (5%) e Maranhão (3%).
Claudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas Brasileiros analisa o levantamento. "O Prodes é o dado que diz exatamente o tamanho do desmatamento ano a ano. Existe uma certa estabilidade, a gente deu uma diferença de 3% a mais do que o ano anterior. Em anos anteriores, havia um aceleramento mais intenso. Agora, existe uma certa estabilização nesse dado, ainda que com esse viés de pequena alta no volume total", avalia.
Negacionismo
A ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, afirmou que a divulgação dos dados representa uma mudança de política em relação à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. "Nós fizemos questão de colocar o dado antes da viagem exatamente para mostrar que não é com negacionismo que se resolve o problema. É fazendo diagnóstico e apresentando soluções".
O governo apresentou o lançamento do novo PPCerrado (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas do Cerrado). O anúncio do Plano ocorre na véspera da Conferência do Clima da ONU (COP 28). O presidente Lula (PT) e a Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, estarão presentes.
O governo apontou os principais entraves para frear o desmatamento no Cerrado: a dificuldade de monitoramento da legalidade do desmatamento vinculado às cadeias produtivas; o baixo nível de reconhecimento dos territórios coletivos e unidades de conservação; a expansão agrícola, especulação fundiária e gestão hídrica ineficaz; manejo inadequado do fogo.
Na avaliação do professor do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília, José Sobreiro Filho, há uma discrepância na preservação da Amazônia e do Cerrado. "Nota-se que, entre governos, temos um tratamento diferente para o Cerrado. Ele é é reconhecido, entre alguns pesquisadores, como uma área de sacrifício para a preservação da Amazônia", comenta.
Ele chama a atenção para a pressão da agroindústria sobre o bioma. "Os estados onde temos o maior desmatamento são exatamente onde há política de incentivo à maior expansão da fronteira agrícola na América Latina — que é exatamente o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Bahia e Piauí)", observa.
"Nós temos, sim, um incentivo histórico dentro de alguns governos anteriores no que se refere ao Matopiba. A essa região se destina o agronegócio brasileiro, e ela emerge como uma zona de sacrifício em busca de uma tentativa utópica da própria Amazônia", completa.
Segundo o governo federal, a nova fase do PPCerrado terá como uma das suas metas "coordenar e/ou alinhar o planejamento dos grandes empreendimentos e projetos de infraestrutura e de desenvolvimento da região visando a meta de desmatamento zero até 2030". O plano tem previsão de durar até 2027.
Na avaliação de Ana Carolina Crisostomo, especialista em Conservação da WWF-Brasil e líder da estratégia de Conversão Zero, o anúncio do PPCerrado é positivo. No entanto, ela frisa que é fundamental o plano ter um senso de urgência.
"Estamos diante de um cenário que requer atenção a um bioma que é estratégico para nossa segurança hídrica e energética, já que é o berço de oito das 12 principais bacias hidrográficas do país, mas já observa redução de 15% da vazão de seus rios", alerta.
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