As operações policiais na Região Metropolitana do Rio de Janeiro resultaram em 283 chacinas, entre agosto de 2016 e julho de 2023. O levantamento, realizado pelo Instituto Fogo Cruzado e cujos dados estão na plataforma Chacinas Policiais, mostra que esse número corresponde a pouco mais de três matanças por mês. Segundo a instituição, 1.117 civis morreram nessas ações.
A região da capital fluminense com maior número de chacinas é a zona norte, com 73 ações policiais que resultaram em 373 mortos. A Baixada Fluminense aparece em seguida, com 72 incursões e 255 mortes, e na sequência vem o Leste Metropolitano — que inclui os municípios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá, Tanguá, Rio Bonito e Cachoeiras de Macacu — com 70 registros e 252 mortes. A zona sul do Rio de Janeiro tem o menor número de matanças — apenas nove e 39 mortes.
Entre os municípios fluminenses, a capital concentra o maior número de chacinas policiais, segundo o Fogo Cruzado. Foram 141 e 630 civis mortos. Em seguida vem São Gonçalo (43 e 157 mortes), Belford Roxo (20 e 72 mortes), Niterói (19 e 66 mortes) e Duque de Caxias (13 e 41 mortes).
Das matanças policiais mapeadas, 18 aconteceram depois que um agente da segurança pública foi morto ou ferido. Essas operações são chamadas de Operações Vingança e são, em média, 71% mais letais do que aquelas em que não houve oficiais baleados. Desde 2016, essas incursões de justiçamento deixaram 117 mortos no Grande Rio.
Segundo Carlos Nhanga, coordenador regional do Fogo Cruzado no Rio de Janeiro, os números são "um indício importante de como a letalidade policial é parte da estratégia em curso no estado". Ele explicou que a eficiência das operações policiais no município é, há anos, medida pela alta letalidade, mas isso jamais resultou em melhorias na política de segurança.
"O método adotado pelas polícias é o de confronto. Isso gera um alto número de mortes, mas sem comprovação de que, assim, a violência está diminuindo", criticou.
Avanço
O Fogo Cruzado observou que houve um aumento na letalidade a partir de 2018 — ano em que ocorreu a Intervenção Federal na cidade —, quando os indicadores mostraram um aumento de 99% no número de vítimas em chacinas policiais. "Não por acaso, a maior chacina registrada no Grande Rio aconteceu no Jacarezinho, em 2021", lembrou, em referência à operação que resultou em 28 mortes.
Segundo o levantamento, o Batalhão de Operações Policiais (Bope), da Polícia Militar, esteve presente em 34 das chacinas policiais que ocorreram nos últimos anos. Esse fator faz do destacamento a unidade especializada mais letal. Em seguida aparece o 7º BPM (São Gonçalo), com 33 matanças e 109 mortes; o Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), com 26 e 121 óbitos; e a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), com 23 e 155 vítimas fatais.
Indagada sobre os dados do Fogo Cruzado, a Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio informou, ao Correio, desconhecer a metodologia utilizada no mapeamento e contestou os números. A Sepol afirma que baseia suas ações em dados oficiais, coletados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).
Segundo a secretaria, o indicador Letalidade Violenta do ISP registrou uma diminuição de 28% em outubro, se comparado ao mesmo período de 2022, "o número mais baixo de vítimas desde 1991". Quanto a mortes por intervenção de agentes do estado, a Sepol alegou que, segundo o ISP, foram registradas 43 mortes em outubro deste ano, redução de 57% em relação ao mesmo mês de 2022 — que seria o menor número para o mês desde 2013.
*Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi
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