clima extremo

Estudo constata o despreparo das cidades para lidar com mudanças climáticas

Pesquisa do Departamento de Saúde Ambiental, do curso de Saúde Pública da USP, constata a incapacidade dos municípios de se anteciparem às catástrofes provocadas por eventos climáticos

Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Saúde Ambiental, do curso de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), chama a atenção para algo que uma boa parcela de brasileiros já sabe porque sofreu na pele os efeitos: o despreparo dos municípios do país para lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Coordenado pela professora Gabriela Marques Di Giulio, o projeto Ciadapta desenvolveu o Índice de Adaptação Urbana (UAI, na sigla em inglês) — que mede a capacidade dos centros urbanos se adaptarem aos eventos climáticos extremos — e constatou que uma boa parte da administração pública não se antecipa à calamidade, mesmo que tenha convivido com ela anteriormente.

"O que a gente tem observado é que a cidade está sempre reagindo de forma reativa, e não proativa. A gente olha se o município tem um Plano Municipal de Habitação para ver se há moradia em situação de risco e o que fazer nos próximos anos para lidar com isso", explicou a pesquisadora, que, atualmente, analisa os dados obtidos em todo o país.

A primeira fase do levantamento foi realizada somente em São Paulo e mostrou que mais da metade dos municípios do estado apresenta baixa capacidade de adaptação às mudanças climáticas. Tendo por base a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2020, Gabriela salienta que um em cada três municípios tem um plano de adaptação a eventos climáticos extremos — porém, não se sabe qual o percentual geral de efetividade, ou seja, se podem ser colocados em prática em caso de necessidade.

Em relação à gestão de risco, somente 13% das cidades do país contam com um Plano de Redução de Risco, que ajuda a entender onde estão as moradias ameaçadas de serem atingidas por desabamentos e enchentes. "Esse índice pode estimular o debate entre as cidades para que criem políticas públicas que alinhem adaptação à sustentabilidade urbana", observa.

Precariedade

Mas não são somente os problemas de urbanização que chamam a atenção dos pesquisadores. A precariedade da infraestrutura, que tem demonstrado não ser capaz de resistir aos eventos climáticos extremos, saltou aos olhos nos últimos dias com a crise do abastecimento de energia em São Paulo — na capital e no interior.

Os temporais nos últimos dois feriados, de Finados (dia 2) e Proclamação da República (dia 15), deixaram claro o despreparo da maior metrópole da América Latina e das gestões da Prefeitura paulista e do governo do estado para lidar com uma falta de energia da magnitude que atingiu o estado. No primeiro feriado, cerca de 2,1 milhões de endereços chegaram a ficar sem luz após uma sucessão de quedas de árvores sobre a fiação elétrica.

Na última quarta-feira, o problema voltou a se repetir em 290 mil pontos.

 

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