O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, rebateu, ontem, a nota do gabinete do premiê israelense Benjamin Netanyahu, que deu a entender que o Mossad — o serviço secreto israelense — orientou e a Polícia Federal (PF) executou a prisão das duas pessoas suspeitas de ligação com o Hezbollah, que estariam preparando atentados contra instituições da comunidade judaica brasileira. Segundo Dino, a investigação que resultou na Operação Trapiche começou antes da guerra de Israel contra o Hamas.
"O Brasil é um país soberano. A cooperação jurídica e policial existe de modo amplo, com países de diferentes matizes ideológicos, tendo por base os acordos internacionais. Nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal do Brasil. E nenhum representante de governo estrangeiro pode pretender antecipar resultado de investigação conduzida pela Polícia Federal, ainda em andamento", registrou o ministro em publicação no X (antigo Twitter).
Dino não citou o governo de Israel na manifestação na rede social. A jornalistas, após a celebração da formação da Ameripol — entidade que congregará as forças de seguranças das Américas —, o ministro assegurou que os agentes federais investigavam suspeitas de planos para ataques terroristas no Brasil. No inquérito, a PF recebeu relatórios de Israel e dos Estados Unidos sobre os presos na Trapiche. A corporação também não ligou os suspeitos ao Hezbollah.
Segundo Dino, a PF atua técnica e cautelosamente, e com respeito aos direitos dos investigados. "Consideramos ser indevida qualquer tentativa de politização, seja na arena interna, seja na arena internacional. Quando há uma cooperação policial, jurídica, de que o Brasil participa, respeitamos a soberania das instituições dos outros países. Nesse caso concreto, identificamos sinais de que poderia estar havendo uma incompreensão visando vincular essa operação policial às tragédias no Oriente Médio", explicou.
O ministro ainda classificou como uma "ingerência indevida" a conclusão sobre a responsabilidade dos presos. "Os delegados da PF e a polícia brasileira são suficientemente competentes para discernir indício técnico daquilo que, eventualmente, poderia ser de interesse político", frisou.
A PF também repudiou a nota do gabinete de Netanyahu. "Manifestações dessa natureza violam as boas práticas da cooperação internacional e podem trazer prejuízos a futuras ações", salientou.
Embaixador
O mal-estar causado pela nota do gabinete israelense se soma ao incômodo que o Palácio do Planalto e o Ministério das Relações Exteriores vêm manifestando nos bastidores com as movimentações e acusações feitas pelo embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine. Na quarta-feira, ele se reuniu com a bancada bolsonarista na Câmara dos Deputados a pretexto de mostrar imagens do ataque do grupo terrorista Hamas ao território israelense, em 7 de outubro. O ex-presidente esteve presente à sessão.
Porém, segundo Zonshine, o encontro com] foi por acaso. "A reunião de ontem (quarta-feira) no Congresso teve como intenção mostrar as atrocidades do 7 de outubro cometidas pelos terroristas do Hamas. Um material muito bruto e sensível. Convidamos parlamentares e apenas parlamentares. A presença do ex-presidente não foi coordenada pela Embaixada de Israel e não era de nosso conhecimento antes da reunião", disse o embaixador, em nota.
Mas, em recente entrevista, Zonshine afirmou que o Hezbollah só atua no Brasil "porque tem gente que os ajuda". O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva interpretou o comentário como uma retaliação à posição da diplomacia brasileira.
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