O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Fernando Palácios, enfrentou, nesta quarta-feira (8/11), uma saraivada de críticas à primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, aplicada no último domingo em todo o país. O pedido de audiência pública foi feito pela oposição, com apoio de parlamentares ligados à bancada do agronegócio, que foi tema de uma das questões apontadas como polêmica no certame.
Palácios tentou, ao longo de mais de quatro horas, não polemizar. “O Enem não demoniza o agronegócio, o Inep não demoniza o agronegócio, isso é obvio, não é tema relevante nessa discussão”, disse ele.
Sobre os textos de apoio que a prova oferece aos estudantes antes dos enunciados das questões, Palácios disse que a seleção “obedece a critérios técnicos rigorosos” e que não tem como objetivo, “em momento algum, submeter ao estudante qualquer pergunta que leve à discordância ou à concordância com o que lá está escrito”. Ele explicou que o importante é apenas “revelar a compreensão do texto citado” por parte do aluno.
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A explicação foi dirigida, especificamente, a parlamentares ligados ao bolsonarismo, que não economizaram críticas ao exame. O deputado Sargento Gonçalves (PL-RN) acusou o Enem de servir de instrumento de ideologização, enquanto a deputada Adriana Ventura (Novo-SP) disse que sentiu “desconforto com as questões ideológicas” ligadas ao agronegócio. Para o pastor Marcos Feliciano (PL-SP), algumas questões do Enem têm viés ideológico e podem ser comparadas com um “manifesto comunista”.
Sempre tranquilo e com respostas técnicas, amparadas em dados e explicações sobre como o exame é elaborado, o presidente do Inep rechaçou qualquer alusão ao uso ideológico do Enem. “Toda a atividade do Inep na construção de instrumentos é normatizada ao extremo. Não há nada que se faça que não esteja regulado por alguma norma interna. Temos guias técnicos que dizem como esses itens devem ser construídos e que equívocos devem ser evitados”, relatou aos deputados.
Sobre o tema da redação, que levantou a questão dos direitos das mulheres, o presidente do Inep foi conciso. Disse que “racismo é crime e feminismo não é doutrina”. “Não me parecem que sejam doutrinários itens que coloquem em evidência questões relativas à discriminação racial ou contra a mulher”, concluiu, sem ser interrompido.
Apesar do tom contundente de algumas críticas feitas pela oposição — os membros do colegiado ligados ao governo elogiaram unanimemente a prova e a atuação do Enem — Palácios conseguiu evitar bate-boca e troca de acusações, como costuma acontecer nas comissões da Câmara em embates entre bolsonaristas e progressistas em temas de costumes.
Balanço do Enem
Manuel Palácios aproveitou a audiência para apresentar um rápido balanço do primeiro dia de provas, no domingo. A abstenção foi de 28%, semelhante à registrada na edição de 2022. A Região Norte, por causa da seca severa, foi a que registrou o maior número de ausências. Foram eliminados cerca de 4 mil candidatos, enquanto 900 tiveram problemas para chegar aos locais de prova.
Pelo menos uma pessoa foi presa por uso de ponto eletrônico, e cinco, por usar o telefone celular no local da aplicação da prova. No total, 30 adultos foram presos pelos mais variados motivos, inclusive brigas e tentativa de furto. A falta de energia foi constatada em 87 locais de prova, enquanto em seis, faltou água.