As pessoas que trabalham ao ar livre estão mais vulneráveis às ameaças das mudanças climáticas. Projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontam para um aumento na frequência e intensidade de eventos meteorológicos extremos. Trabalhar em um planeta cada vez mais quente evidenciará o estresse térmico como fator de risco ocupacional, que leva a perda de empregos e de produtividade.
“Tem gente que me pergunta como você aguenta?”, comenta Maria de Lourdes Feitosa, enquanto supervisiona uma equipe de manutenção dos jardins públicos na região central de Brasília. “O calor não impacta no trabalho, mas a gente sente na pele. Sente no corpo. Eu fico ali às vezes parada um pouco e vou me movimentar para ver se o sangue corre. Os pés incham, devido ao calor, o que não vejo quando está um tempinho fresco, chuvoso.”
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O calor está previsto como risco ocupacional no texto da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), estabelecido pelo Ministério do Trabalho. Mas apenas para locais fechados ou com fontes artificiais de calor. Assim, o fato de o trabalhador estar exposto ao sol não caracteriza, necessariamente, insalubridade. O direito ou não ao adicional vai depender da avaliação de um juiz, caso a exposição ao calor externo atinja temperaturas acima dos limites da norma.
Maria de Lourdes trabalha há 12 anos para a empresa terceirizada que presta os serviços nos canteiros de jardim. O expediente é das 9 às 16 horas, cinco dias por semana. “Eu já trabalhei igual a eles. Existe a equipe de canteiros, mas eu fazia o costal, [serviço] de trabalhar com a máquina e sair cortando a grama. Só que aí é um serviço mais puxado um pouco. Eu não acho, para mim não é, eu gosto da máquina.”
Temperaturas acima de 24o-26°C estão associadas com redução da produtividade do trabalho. Entre 33°C e 34°C, um trabalhador que executa atividade com intensidade moderada perde 50% da sua capacidade de trabalho, segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “O Brasil, como grande produtor de commodities, tanto agrícolas quanto minerais, é um país particularmente exposto aos riscos do aquecimento global”, avalia Aguinaldo Maciente, especialista em Políticas de Emprego e Mercado de Trabalho do escritório da OIT no Brasil. “O desafio principal para os governos é manter as suas legislações adequadas”, pondera.
Os sintomas associados ao estresse térmico no corpo humano, mapeados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), são muitos: desidratação, irritabilidade, erupção cutânea, cólicas, sudorese, exaustão, insolação e até perda de consciência e ataque cardíaco em circunstâncias extremas.
Baseado num aumento da temperatura global de 1,5oC até o final do século, as projeções da OIT indicam uma perda, por causa do calor, de até 3,8% das horas de trabalho no mundo – o equivalente a 136 milhões de empregos em tempo integral. As perdas econômicas devido ao estresse térmico podem chegar a US$2,3 tri em 2030.