Saúde Ambiental

Crianças são mais vulneráveis por causa do sistema respiratório em formação

Efeitos das mudanças climáticas são mais intensos na primeira infância, e exigem maiores esforços na busca por soluções

As mudanças no clima estão causando problemas sérios em diferentes partes do Brasil. Há chuvas em excesso ou em falta e temperaturas extremas. Esses fenômenos afetam especialmente crianças e adolescentes, que ainda estão crescendo e se desenvolvendo, sendo mais suscetíveis a problemas no sistema respiratório. As afirmações são do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no relatório “Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil”.

De acordo com os dados, quase 24,8 milhões de crianças e adolescentes no Brasil estão expostos ao risco de poluição do ar, 13,6 milhões enfrentam ondas de calor e 2,1 milhões vivem em áreas particularmente vulneráveis a esses problemas. Elis Vitoriana, uma criança de 5 anos que vive no bairro Mutirão, na periferia de Altamira, no Pará, tem enfrentado frequentes crises respiratórias devido a má qualidade do ar. “Ela tosse tanto que às vezes acaba vomitando devido à intensidade da crise”, declara sua mãe, Aline Vitoriana.

A otorrinolaringologista Maura Neves explicou que a fase de crescimento é muito importante para as crianças, pois é quando seus corpos e sistemas de defesa ainda estão se desenvolvendo e, portanto, são mais vulneráveis a problemas de saúde. “Quando a poluição do ar aumenta devido ao desmatamento e ao enfraquecimento das políticas ambientais, as crianças podem sofrer mais com doenças respiratórias”, afirma.

Aline conta que já correu com Elis para o hospital diversas vezes durante madrugadas de crises de asma e amigdalite. Com tantas idas recorrentes, as medicações e precauções se tornaram aliadas. “Agora eu sei o que fazer quando ela está passando mal ou não, tento escolher até mesmo o horário do dia que ela pode ficar exposta fora de casa ou escola.”

Por meio da colaboração entre a Fiocruz e o Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (INCICT), foi realizado um mapeamento no que é conhecido como o “Arco do Desmatamento”, abrangendo estados como Acre, Amapá, Amazonas, parte do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins, no período de maio a outubro de 2019. Nas cidades estudadas, houve um total de 5.091 crianças internadas por mês, quando o número esperado era de 2.589. Esses resultados indicam um excesso de 2,5 mil internações nos municípios mais afetados pelas queimadas.

O estudo apontou que, durante estação seca na região, que coincide com a diminuição das chuvas locais, a umidade do ar cai. Então, há um aumento no número de afecções respiratórias devido à maior emissão de poluentes e à concentração de gases tóxicos na atmosfera, o que prejudica a saúde da população.

Para medir a qualidade do ar

Para lidar com a poluição é essencial conhecer os tipos e a quantidade de poluentes presentes no ar. Conforme informações do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), somente dez estados brasileiros e o Distrito Federal possuem sistemas de monitoramento da qualidade do ar. A Plataforma da Qualidade do Ar disponibiliza dados sobre as substâncias poluentes presentes em cada região e fornece informações sobre as medidas de controle. A responsabilidade pela coleta é dos órgãos estaduais de meio ambiente que cuidam da implementação e administração dos sistemas de monitoramento. Além disso, a escolha da tecnologia utilizada para a coleta de dados fica a cargo de cada governo estadual.

Os estados que atualmente dispõem de sistemas de medição da qualidade do ar são: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e o Distrito Federal.

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