O aumento de partículas no ar vai tornar cada vez mais di- fícil respirar. “Podemos afir- mar que 90% da população mundial já respira um ar com níveis de poluição acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde”, diz Guilherme Schettino, médico pneumologista e diretor de Sustentabilidade e Responsabilidade Social do Einstein. A inalação da fumaça originada por queimadas florestais, emissões de veículos e secas em várias áreas do país pode causar uma série de problemas à saúde, principalmente respiratórios.
Os sintomas incluem dor de garganta, tosse seca, fadiga, falta de ar, dores de cabeça, irritação nos olhos e, em casos extremos, levam à morte. “A fumaça pode agravar condições respiratórias preexistentes, como asma, bronquite, rinite e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)”, explica. Esses problemas resultam da inalação de partículas presentes na fumaça, que contêm compostos químicos prejudiciais ao sistema respiratório, afetando a eficiência da troca de gases nos pulmões. Em Altamira (PA), município com mais focos de queimadas em 2023 até o início de novembro – 3.362 – segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), os impactos das queimadas e da poluição do ar são sentidos pela população no cotidiano. “Já conseguimos identificar a mudança no próprio céu, vejo que atualmente ele é cinza e está cada vez pior”, conta a moradora do município, Aline Vitoriana, de 31 anos.
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O professor de medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA), Juarez Quaresma, transita entre a capital Belém e Altamira e, assim como Aline Vitoriana, também percebe os efeitos das fumaças, das queimadas e da má qualidade. Quaresma afirma que a saúde humana é afetada pelas queimadas devido à presença de diversos elementos tóxicos na fumaça. “O material particulado é um dos mais perigosos, composto por uma mistura de compostos químicos e partículas de diferentes tamanhos.”
Schettino diz que as partículas menores, conhecidas como finas ou ultrafinas, quando inaladas, percorrem todo o sistema respiratório, atravessam a barreira epitelial que reveste os órgãos internos e alcançam os alvéolos pulmonares, onde ocorrem as trocas gasosas, podendo até entrar na corrente sanguínea. Outra substância prejudicial é o monóxido de carbono (CO), que, quando inalado, entra na corrente sanguínea, onde se liga à hemoglobina e compromete o transporte de oxigênio para células e tecidos do corpo.
Pior seca em 121 anos
Manaus, assim como a maioria dos municípios do Amazonas, enfrenta uma grave crise ambiental. Além da histórica seca que tem isolado comunidades, escolas em áreas rurais foram fechadas e a cidade enfrenta problemas na navegação de embarcações e no transporte de mercadorias do Polo Industrial. O desmatamento ilegal e as queimadas criminosas agravam a situação, comprometendo ainda mais todo o ecossistema. Morador da capital, Manoel Paixão, de 47 anos, relata que a má qualidade do ar afeta a vida cotidiana na cidade. “Trabalhando ao ar livre, eu notei que meu paladar estava com ‘gosto’ de fumaça, o que acabou afetando minha respiração”, declara.
O Rio Negro, famoso por suas águas escuras e extensão de quase 1.700 quilômetros, atingiu 13,59 metros de profundidade – a pior da história da capital amazonense. Esses dados foram registrados pelo porto de Manaus, que monitora as variações no nível das águas. A seca na Amazônia resulta de uma interação complexa de fatores, com a crise climática no centro da questão, segundo Schettino. O aumento da temperatura global contribui para a diminuição das chuvas e aumento da evaporação, o que afeta diretamente a disponibilidade de água na região.