Historicamente associada à região norte do Brasil, onde o número de casos é maior e a doença já se tornou endêmica, a infecção por malária vem crescendo em estados que estão fora da Amazônia Legal. O número de casos registrados no Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul em 2022 é o maior desde 2010, segundo dados do Ministério da Saúde. As notificações somaram 146 casos apenas no último ano.
Até 2020, a região Centro-Oeste (exceto Mato Grosso, que integra a Amazônia Legal) não registrava mais de 100 casos de malária por ano. A escalada constante nos registros da doença começou em 2021, e continua em alta. Em 2023, foram registrados 113 casos até 31 de outubro. Segundo a infectologista Emy Akiyama, do Hospital Albert Einstein, a proliferação da doença está relacionada a condições específicas de calor e umidade que podem estar sendo influenciadas pelas alterações climáticas.
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"Alguns estudos fazem correlação entre o aumento de temperatura com a alta de casos de malária. Existem também outros fatores relacionados, como a umidade, para que o mosquito transmissor possa se proliferar", explica a médica. A malária é transmitida pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles que, quando infectado pelo parasita plasmodium, passa a doença para humanos e outros animais, como o macaco.
O engenheiro ambiental da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Carlos Eduardo Pacheco, afirma que a mudança de temperatura no Brasil pode tornar a malária endêmica nas demais regiões do país. "Alguns vetores, como o da malária, têm melhor instalação em alguns locais do país devido à adaptação. No entanto, com as mudanças climáticas, cria-se condições ambientais para dispersão desses vetores", explica.
Além do fator climático, a facilidade de transporte de uma região para outra pode contribuir para o aumento de notificações em locais não endêmicos. Embora a doença não seja contagiosa, o próprio indivíduo infectado pode atuar como agente de transporte da doença se for picado por um mosquito que ainda não esteja contaminado.
Água: o que fazer quando o abastecimento for comprometido
Condições climáticas extremas podem reduzir o acesso a água potável, o que aumenta o risco de consumo de fontes contaminadas pela população e a exposição a vírus e bactérias. Especialistas ouvidos pelo Correio apontam duas alternativas para uso doméstico:
Filtros de barro são eficientes para tratar a água de consumo direto, mas o tipo de tratamento deve ser escolhido em função da necessidade e da qualidade da água que se pretende tratar. Funcionam como medida paliativa, proporcionando uma reação rápida em situações de emergência, mas não são recomendáveis como única medida. Devem ser utilizados em conjunto com tratamentos de água mais complexos que tenham impacto mais amplo.
Reuso de água é uma técnica eficiente a longo prazo e viável para condições climáticas adversas. Conhecido no tratamento de efluentes (água que já passou por usos industriais, agrícolas e domésticos),
pode ser utilizado para captação doméstica de água da chuva na maioria dos usos essenciais, como irrigação, lavagem de ambientes e objetos, descargas e também para banho.
Saiba Mais
A ingestão direta de água da chuva só deve ser adotada em casos extremos e exige cuidados adicionais: recomenda-se filtrar a água da chuva em filtros de barro e depois fervê-la por pelo menos três minutos. A seguir, é preciso aerar a água, trocando-a de recipiente várias vezes para suavizar o gosto. Outra possibilidade é misturar duas gotas de água sanitária por litro de água no filtro de barro. Misture e aguarde meia hora antes de consumi- la. Observe que a água sanitária deve ter concentração de 2,5% de hipoclorito de sódio na sua composição.
Fontes: Carlos Eduardo Pacheco - Engenheiro ambiental (Embrapa); Diego Xavier - Sanitarista (Observatório do Clima e Meio Ambiente/Fiocruz) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
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