A fama de medicamentos injetáveis para emagrecer cresceu acentuadamente nos últimos anos. O Ozempic, indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, virou uma verdadeira febre. De acordo com a plataforma Consulta Remédios, as buscas pelo remédio aumentaram 91% no primeiro semestre de 2023. Com mais da metade da população brasileira (55,4%) com sobrepeso e quase 20% com obesidade, especialistas aprovam as novas opções de tratamento, mas destacam que o uso só deve ser feito sob indicação médica.
Apesar do Ozempic ser aprovado para o tratamento de diabetes, é comum o chamado uso "off-label", ou fora da bula, para combater o excesso de peso. No entanto, o médico endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Paulo Miranda, alerta que a medicação não é indicada para finalidades estéticas.
"Ainda que o Ozempic não tenha registro em bula para o tratamento de obesidade, nós já temos dados da segurança e da eficácia dele para esse fim. Ele segue os princípios da ciência e deve ser aplicado para o que foi estudado e não para o desejo social de perda de peso" afirma Miranda.
O presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, também destaca que a aprovação e análise de todo medicamento é com base no que a bula contempla. "Nós não temos ação no uso off-label, mas isso não significa que não estamos atentos e monitorando esses casos. É um remédio novo que ainda vai ter uma curva de observação e monitorização pela agência e vamos analisar todos os efeitos adversos", garantiu.
Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, neste ano, mais dois medicamentos injetáveis, o Mounjaro e o Wegovy, que ainda não estão à venda no país. Ambos possuem o mesmo princípio ativo do Ozempic, a substância semaglutida, mas foram estudados para o tratamento de populações e patologias específicas e suas apresentações, dose e aprovações são diferentes. Estudos mostram que pacientes perderam até 17% do peso com o Wegovy, além de terem apresentado melhora nos parâmetros metabólicos, como redução na taxa de triglicerídeos, colesterol e glicemia.
A farmacêutica responsável pela fabricação desses medicamentos, Novo Nordisk, não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off-label e que o Ozempic não possui indicação aprovada pelas agências regulatórias nacionais e internacionais para o tratamento de obesidade.
Doses excessivas
O Ozempic consiste em uma caneta de injeção semanal. A dose libera uma substância que, além de estimular a produção de insulina e diminuir os níveis de glicose no sangue, promove a saciedade. Por isso, quem usa o remédio sente menos fome e emagrece. No entanto, o uso deve vir acompanhado de uma mudança de hábitos, como dieta e atividades físicas.
E há outros cuidados. "Independentemente da dose, ela deve ser prescrita no máximo uma vez por semana apenas. Eu já vi absurdos de uso diário e isso é extremamente perigoso", alerta o médico e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Levimar Araújo.
Outra questão é que o Ozempic é vendido sem retenção de receita, ou seja, apesar de ser obrigatório a apresentação dela, a farmácia não precisa mantê-la. Para Miranda, isso facilita a compra por pessoas que não têm indicação médica. "Isso gera uma automedicação, que não é recomendada", adverte Araújo.
Além disso, quem faz uso do medicamento também deve ficar atento às falsificações. Na última sexta-feira, a Anvisa publicou um alerta de lotes falsificados após uma notificação da empresa responsável, Novo Nordisk. A farmacêutica denunciou como falso o lote LP6F832, que indicaria validade até 2025. A agência orienta que somente sejam adquiridos em estabelecimentos regularizados, dentro da embalagem e com nota fiscal.
Os principais efeitos adversos do Ozempic estão relacionados ao trato gastrointestinal como náuseas, vômitos e sensação de estômago cheio, outros sintomas como dor de cabeça e leve aumento da frequência cardíaca também podem ocorrer. "O remédio não pode ser usado por quem tem problemas intestinais mais sérios. Então, é imprescindível a indicação de um médico especialista", destaca Araújo.
O Atlas Mundial da Obesidade 2023 estima que 41% da população adulta brasileira terá obesidade até 2035. Atualmente, o SUS não disponibiliza nenhum medicamento contra a doença. A nutróloga e cofundadora da ONG Obesidade Brasil, Andrea Pereira, diz que a falta de medicação gera um aumento na fila de cirurgias bariátricas, pois, muitas vezes, a mudança de estilo de vida não é o suficiente.
"Nós temos, hoje, medicações muito efetivas no controle da obesidade, porém elas ficam restritas à classe alta. Isso precisa ser mais discutido pelo SUS, porque a obesidade é uma doença crônica. Os remédios fazem parte do tratamento", diz.
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