A maior incidência de radiação solar deve aumentar o número de casos de câncer de pele, considera Aparecida Machado de Moraes, coordenadora de Oncologia Cutânea da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). “As radiações têm se tornado mais intensas junto às maiores temperaturas e também às secas, quando não há nuvens para proteção do céu. As pessoas estão recebendo uma radiação mais nociva para a pele”, afirma.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), um a cada mil brasileiros poderá desenvolver câncer de pele entre 2023 e 2025. O número se refere ao câncer de pele não-melanoma, que não afeta os melanócitos, células mais profundas da epiderme responsáveis por produzir a coloração do órgão. É o tipo mais comum de câncer no Brasil. No entanto, o que preocupa especialistas é o câncer de pele melanoma, causador de 1.923 mortes no país em 2020, segundo dados apurados pelo Radar do Câncer. Cerca de 32% desses óbitos ocorrem de forma considerada precoce, ou seja, em pacientes entre 30 e 69 anos.
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André Krizak, de 48 anos, foi diagnosticado com câncer de pele melanoma em maio do ano passado. Cinco meses depois, o ex-consultor de vendas realizou a cirurgia para a retirada do tumor. “Muita gente acha que câncer de pele é uma coisa boba, né? Mas o impacto psicológico de estar com câncer é muito forte. Passa um filme pela cabeça. Câncer de pele mata”, afirma.
A região do Brasil mais afetada pelos tumores dermatológicos é o Sul do país. Neste ano, o Paraná é o estado que possui mais casos ativos em proporção de habitantes: dos 938 casos registrados no Brasil até outubro, 140 afetaram paranaenses, como contabilizado pelo Radar do Câncer. De acordo com Aparecida, da SBD, o principal motivo para essa predominância é a atividade ocupacional dos moradores do estado, que concentra elevado número de trabalhadores rurais.
É o caso de Divanei Mariano, 51 anos, produtor rural de Cerro Azul (PR). Ele percebeu o crescimento de manchas no corpo, mas somente se preocupou quando os ferimentos começaram a sangrar e recebeu o diagnóstico de câncer, que está em tratamento. “Descobrir sem ir ao médico é difícil. Porque a mancha não dói, sabe? Tive que comprar camisa comprida, usar muito protetor solar e diminuir também as horas de sol quente”, conta.
Saiba Mais
82% dos pacientes de câncer melanoma começaram o tratamento acima dos 50 anos em 2023
83,5% dos pacientes começaram o tratamento em estágio avançado - quando o tumor já se espalhou para outras partes do organismo - entre 2020 e 2022
61,5% precisaram se deslocar da cidade onde moram para realizar tratamento em 2023
210.837 é o número de biópsias de pele realizadas no Brasil em 2023
Palavra de especialista
“Os trabalhadores que se expõem ao sol precisam desenvolver o hábito precoce da proteção. Se não for com protetor solar químico, usar roupas e chapéu sempre. Tem que usar sempre, não apenas um dia. Essa orientação deve ser muito rigorosa, para que as pessoas tenham esse hábito de se proteger rotineiramente. Tudo isso compete a uma educação já desde a infância para que se adquira a proteção desde cedo.”
Aparecida Machado de Moraes, coordenadora de Oncologia Cutânea da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)
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