Nesta quinta-feira (2/11), no Brasil e em diversos países, é celebrado o Dia de Finados, um ritual religioso que faz parte da tradição cristã católica, mas é celebrado por várias culturas diferentes. A data tem como objetivo principal relembrar a memória dos entes queridos que já se foram, e também tem aspectos culturais que são aplicados em diversas partes do mundo.
De acordo com a doutrina da Igreja Católica, a alma da maioria dos mortos está no purgatório, passando por um processo de purificação. Por essa razão, a alma necessita de orações dos vivos para que intercedam a Deus pelo sofrimento que as aflige. Assim, desde o Império Romano, há o costume de se rezar pelos mortos, e houve uma pessoa responsável por instituir a data específica dedicada à essas almas, ele foi o abade Odilon, de Cluny, na França, por volta de 1030.
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De acordo com o professor Luiz Eduardo de Lacerda Abreu, do Departamento de Antropologia (DAN) da Universidade de Brasília (UnB), em todas as sociedades, a morte, o corpo e o luto são tratados por meio de rituais. A razão disso são as propriedades destes. “Os rituais são uma forma de comunicação: eles não apenas dizem algo, como também dialogam com as crenças sobre a morte e os mortos”, diz o antropólogo.
Nesse contexto, o Dia dos Mortos era conhecido desde a Idade Média, como “Dia de todas as Almas”, dia esse que sucedia o “Dia de todos os Santos” — comemorado no dia 1º de novembro.
Foi a partir do século 21 que a data se popularizou pelo mundo, como o Dia de Finados. “Para a antropologia, a forma como a sociedade brasileira trata a morte, o cadáver e os rituais é, em grande medida, parte da nossa herança ibérica. Mas ela se consolidou em algo parecido ao que vemos hoje apenas recentemente”, complementa Luiz Eduardo.
Atualmente a data reúne milhares de pessoas para irem até os cemitérios para entregar flores em memória dos que se foram, ou até mesmo velas e orações como homenagem. “Ter um dia próprio para celebrar a memória dos mortos, é a expressão da importância dos laços familiares e a afirmação de uma identidade: pertenço a uma família ou essas pessoas fizeram parte da minha história, daquilo que me moldou naquilo que sou hoje”, complementa o professor.
Celebrações pelo mundo
Sendo uma celebração universal, cada local tem sua peculiaridade de acordo com o contexto cultural que está inserido. Luiz Eduardo explica que cada cultura elabora à sua maneira: o que significa a morte? Do que é composto o corpo? As pessoas têm espírito? Qual o papel dos mortos no mundo dos vivos? Como a sociedade lida com a passagem de um estado para o outro? Os mortos influenciam os vivos? As respostas podem variar muito.
Para os Dayak de Bornéu, no sudoeste asiático, por exemplo, a distância entre o enterro provisório e o definitivo pode durar anos. “Esse é um período muito perigoso para o morto e a sua família. O espírito não pertence mais ao mundo dos vivos, mas também ainda não entrou completamente na aldeia dos ancestrais. Ele está entre lugares, uma condição que nós chamamos de liminaridade”, aborda Luiz Eduardo.
Já no México, na comemoração do Dia dos Mortos, não há tristeza, e os mexicanos comemoram a data com desfiles, fantasias, quitutes e lotam os cemitérios. No Japão, a festividade dura 3 dias e é uma oportunidade de reunir a família, e se preparar para o retorno dos mortos, movido por tradições japonesas, como: limpar a lápide dos falecidos, colocar lanternas em frentes às casas, ruas e lagos, que servirão para iluminar o retorno das almas.
No Haiti, se misturam rituais católicos e de vudu, a maior religião do país. Os católicos acordam pela manhã, rezam a missa e vão ao cemitério. Já na tradição ligada ao vudu, envolve ofertas de comida e bebida para os mortos nos cemitérios, e há rituais para invocar o Deus dos Mortos.
A data a prova que as culturas constroem tradições e rituais diferentes para expressarem os mesmo sentimentos e o desejo de homenagear os entes queridos que se foram.
*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori
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