O Brasil está envelhecendo rapidamente, enquanto o número de crianças caminha na direção contrária, de acordo com o último relatório parcial do Censo 2022, divulgado nesta sexta-feira (27/10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 12 anos (desde o Censo de 2010), a população com 65 anos ou mais saltou de 7,4% do total de habitantes para 10,9%.
Em números absolutos, temos, atualmente, 22,1 milhões de idosos, uma alta expressiva de 57,4% em relação à última contagem. No sentido oposto, o percentual de crianças até 14 anos caiu 12,6% no período — de 45,9 milhões (24,1%) para 40,1 milhões (19,8%). A tendência de envelhecimento da população já vinha sendo apontada pelos pesquisadores, mas a velocidade com que o fenômeno avança surpreendeu, assim como a redução da base da pirâmide etária.
Os números mostram que o Brasil está saindo do chamado bônus demográfico, em que a população jovem é maioria e garante a sustentabilidade do mercado de trabalho nas décadas seguintes. Metade da população do país tem 35 anos ou mais — seis anos a mais do que a mediana aferida pelo IBGE em 2010, que era de 29 anos —, ratificando a tendência de "franco envelhecimento" dos brasileiros, segundo o IBGE. "O índice de envelhecimento chegou a 55,2 idosos para cada 100 crianças de 0 a 14 anos. Em 2010, o índice era 30,7", informou o instituto.
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A combinação desses dois dados — aumento da população idosa e redução do número de crianças — revela o tamanho do desafio da sociedade brasileira e dos gestores públicos para assegurar, no futuro, mão de obra qualificada e em número suficiente para manter o ritmo de desenvolvimento econômico do país e, simultaneamente, gerar recursos para bancar as necessidades dos aposentados.
"Estamos prestes a completar a transição demográfica", disse ao Correio o geógrafo Cláudio Egler, integrante da Comissão Consultiva do Censo. Para ele, o país terá que investir fortemente na formação acadêmica e profissional da geração que ainda não passou dos 14 anos de idade para assegurar mão de obra qualificada em um futuro no qual a disputa por empregos vai ficar cada vez mais restritiva, marcada pela automação e pela inteligência artificial. Ao mesmo tempo, aumentará a necessidade de investimentos na população mais velha, seja em relação à Previdência Social, seja em saúde e mobilidade.
"Vão entrar cada vez menos pessoas no mercado de trabalho e, se elas não tiverem qualificação, a produtividade geral da economia tende a cair. Mais do que nunca, é preciso investir nessa geração que está entrando agora. O desafio é duplo: melhorar o ensino e garantir qualidade de vida para a população idosa", alerta Egler.
Sobre a curva de envelhecimento da população, a gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, Izabel Marri, aponta alguns fatores que eram esperados pelos pesquisadores. "Com o tempo, a base da pirâmide etária foi se estreitando devido à redução da fecundidade e dos nascimentos que ocorrem no Brasil. O que se observa, ao longo dos anos, é a queda da população jovem, com aumento da população em idade adulta e, também, do topo da pirâmide."
Menos filhos
A Região Norte é a mais jovem do país (25,2% da população com até 14 anos de idade), seguida da Região Nordeste (21,1%). As regiões Sudeste e Sul, que têm a população mais envelhecida, contam com apenas 18% e 18,2% de crianças, respectivamente, e as maiores proporções de idosos com mais de 65 anos (12,2% e 12,1%). O Centro-Oeste apresenta distribuição etária próxima da média Brasil.
"A queda da fecundidade ocorreu primeiramente no Sudeste e no Sul do Brasil, o que as faz as regiões mais envelhecidas, com menor proporção de jovens. A Região Norte, embora também tenha registrado redução da fecundidade ao longo dos últimos anos em todos os estratos socioeconômicos, ainda se mantém proporcionalmente mais jovem. Também é no Norte que observamos a menor proporção de pessoas adultas e idosas em relação às outras regiões", explicou Marri.
A taxa de fecundidade do país só será divulgada nos próximos relatórios do Censo, mas esse indicador vem caindo consistentemente. Em 1960, o número médio de filhos por mulher era de 6,28, índice que chegou a 1,9, em 2010. Estimativas do IBGE indicam que, neste Censo, a taxa de fecundidade deve ficar em torno de 1,7. Os especialistas explicam que taxa abaixo de 2 aponta para uma redução da população nos anos seguintes.
Brasil feminino
As mulheres ampliaram sua presença no total da população nos últimos 12 anos. Hoje, representam 51,5% (104,5 milhões) do total de habitantes, enquanto os homens somam 48,5% (98,5 milhões). Na comparação com o Censo de 2010, são 6 milhões de mulheres a mais. A relação de homens por grupo de 100 mulheres está em 94,2, mostrando "que a tendência histórica de predominância feminina na população se acentuou", segundo o IBGE. Em 1980, eram 98,7 homens para cada 100 mulheres, relação que caiu para 96/100, em 2010.
"Isso está relacionado com a maior mortalidade dos homens em todos os grupos etários. Além disso, nas idades adultas, a sobremortalidade masculina é mais intensa. E, com o envelhecimento populacional, a redução da população de 0 a 14 anos e o inchaço da população mais idosa, há um aumento da proporção de mulheres, já que elas sobrevivem mais em relação aos homens", explicou Izabel Marri.
Um dado curioso é que a proporção de homens é maior nas pequenas localidades, mas vai caindo à medida que aumenta o porte populacional dos municípios, partindo de 102,3 homens para cada 100 mulheres nas cidades com até 5 mil habitantes, chegando a 88,9 nas cidades com mais de 500 mil moradores. Nesta segunda apuração do Censo 2022, o total de habitantes do país foi atualizado para 203.080.756 — 18.244 pessoas a mais do que na primeira apuração.
Curiosidades
O Censo 2022 traz curiosidades que retratam as desigualdades geográficas do país. Do Monte Caburaí, em Roraima, ao Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, a pesquisa revela traços que distinguem o perfil dos brasileiros e a predominância de certos grupos ou características.
Enquanto no estado mais setentrional há um predomínio da população mais jovem, com Uiramutã (RR) sendo a cidade com a menor média de idade do Brasil (15 anos), no estado mais meridional, nove cidades lideram a lista de maior média de idade, sendo Coqueiro Baixo (RS) a líder absoluta, com 53 anos. Veja alguns detalhes:
• No primeiro Censo, em 1872, a população brasileira tinha 51,6% de homens e 48,4% de mulheres. Em 2023, esses percentuais se inverteram, para 51,5% de mulheres e 48,5% de homens;
• A cidade mais masculina do país é Balbinos (SP), com quatro homens para cada mulher;
• Das 10 cidades mais "masculinas" do Brasil, cinco sediam penitenciárias para homens: Balbinos (1ª) Lavínia (2ª), Iaras (4ª), Álvaro de Carvalho (5ª) e Florínea (8ª), todas em São Paulo;
• Entre as cidades com mais de 100 mil habitantes, Santos (SP) tem a maior proporção de mulheres (54,68%) e de idosos acima de 65 anos (18,73%);
• Das 10 cidades com a maior média de idade do país, nove estão no Rio Grande do Sul;
• Todas as 10 cidades com a menor média de idade do país estão na Região Norte. Uiramutã (RR), que lidera o ranking, possui metade da população de jovens abaixo dos 15 anos.
(Colaborou Raphael Pati, estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo)