Três dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro foram alvo de uma grande operação integrada das polícias Civil e Militar do estado, que mobilizou mais de mil agentes e um forte aparato de veículos, helicópteros e até drones. As operações simultâneas aconteceram no Complexo da Maré e na Vila Cruzeiro (que integra o Complexo do Alemão), na Zona Norte da capital fluminense, e na Cidade de Deus, na Zona Oeste. Um dos principais objetivos da ação policial é, segundo fontes da Secretaria de Segurança Pública do estado, capturar chefes de facções criminosas envolvidos com a chacina de três médicos, na semana passada, em um quiosque da Barra da Tijuca (Zona Oeste).
Na megaoperação desta segunda-feira (9/10), dos quatro helicópteros que davam suporte à incursão dos agentes, dois foram atingidos por tiros quando sobrevoavam a Maré e precisaram fazer pouso de emergência. Ninguém ficou ferido. Dez veículos blindados das duas corporações também foram usados. De acordo com o primeiro balanço oficial da operação, divulgado no início da tarde, os policiais encontraram na comunidade do Parque União, no Complexo da Maré, um laboratório de refino de drogas e fabricação de explosivos, além de meia tonelada de maconha. Na Cidade de Deus, houve uma apreensão de 100 quilos de pasta base de cocaína.
- Rio e Bahia mostram fracasso de medidas contra o crime organizado dos últimos 20 anos
- Chacina de médicos: crime organizado ignora ações de segurança pública
- Em meio a críticas, plano de segurança mira ascensão do crime organizado
Nove pessoas foram presas nas primeiras horas da operação — três em flagrante por receptação e as outras seis por mandados de prisões expedidos —, de acordo com a Secretaria de Segurança. Os policiais apreenderam 17 veículos, um fuzil, carregadores, artefatos explosivos e rádios de comunicação usados pelas facções. Equipes de demolição de uma unidade especial da PM está retirando barricadas das vielas das comunidades, montadas pelos criminosos para evitar o tráfego de viaturas policiais. Mais de 29 toneladas de entulho, barras de ferro e blocos de concreto foram recolhidos.
Para evitar comunicação entre chefes de facções criminosas que estão presos e seus comparsas nas favelas dominadas, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) bloqueou o sinal da telefonia celular na área do Complexo Penitenciário de Bangu, afetando diretamente as unidades Bangu 3 e Bangu 4, que concentram algumas das principais lideranças do crime organizado no estado. Nesses presídios, cerca de 250 agentes da Seap vistoriaram celas — com a ajuda de scanners de mão — em busca de esconderijos nos quais os presos costumam ocultar telefones celulares e drogas.
"Modo avião"
Foram apreendidos nos presídios um quilo de “material aparentemente entorpecente” e 58 aparelho celulares, que foream encaminhados à perícia técnica. A Seap adquiriu uma ferramenta israelense de inteligência — Cellebrite — capaz de quebrar a criptografia dos telefones e recuperar mensagens apagadas.
Para a secretária de Administração penitenciária, Maria Rosa Lo Duca Nebel, a varredura deixou Bangu 3 e Bangu 4 “em modo avião”. “A Polícia Penal está trabalhando para desarticular a comunicação entre lideranças criminosas e as facções que atuam nas áreas que estão sendo foco das operações desta segunda-feira. Por meio de um conjunto de ações de inteligência, o objetivo é mitigar a capacidade desses grupos de se reorganizar, contribuindo para a efetividade da operação”, disse ela.