CPMI DO 8/1

Anotações indicam que Torres queria ligar PT à compra de votos

Registros estavam em aparelho da delegada federal Marília Alencar, ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Ex-ministro queria acompanhar de perto movimento de eleitores no Nordeste

Um texto no bloco de notas do celular da delegada federal Marília Alencar, ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, entregue pela Apple à CPMI de 8 de janeiro — e obtido pelo Correio —, indica que o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, planejava acusar o PT de compra de votos. Ele também estaria especialmente interessado nas movimentações de eleitores no Nordeste.

A então braço-direito de Torres no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro detalha reuniões de que participou, com a presença do ex-ministro e dos diretores das polícias Federal (PF) e Rodoviária Federal (PRF) para falar sobre ações em estados onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva obteve mais votos, no primeiro turno das eleições de 2022. Em um dos encontros, "(Torres) disse que tinha informações de que estavam rodando Brasil afora milhões de reais em compra de votos, que estava recebendo muitos vídeos e notícias sobre isso, e que as polícias tinham que atuar mais para impedir tais crimes, especialmente a PF", diz um trecho.

O texto — que a Apple não precisa a data, mas garante ser do período entre 31 de dezembro de 2021 e 18 de agosto de 2023 — salienta que "havia uma preocupação do ministro com o Nordeste e ele falava muito na Bahia, pois havia visto no mapa com o planejamento do primeiro turno que havia muito pouca distribuição de equipes no interior da Bahia". Lula obteve mais de 72% dos votos válidos no estado.

"Na conversa do grupo, comentei sobre alguns lugares em que o Lula havia ganhado e que precisava ser reforçado, diante da existência de informes de compra de votos nesses locais e da preocupação sempre externada pelo Ministro", detalha Marília.

Ela diz que "havia uma certa pressão" para que fizesse um relatório relacionando o PT à compra de votos, o que não foi feito por falta de comprovação. Ela percebeu que "Márcio (Nunes, ex-diretor geral da PF) não queria cumprir a determinação dele (Torres), e acabou não cumprindo, pois os planejamentos não foram seguidos".

A defesa do ex-ministro declarou ter tomado conhecimento do conteúdo do bloco de notas de Marília pela imprensa. Em nota, afirmou que "não teve acesso oficial aos documentos ou perícias e, por isso, prefere se manifestar nos autos".

Marília foi convocada a depor na CPMI em 12 de setembro, mas um habeas corpus concedido pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, a desobrigou de comparecer.

 

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