Ainda distante de ser uma referência para as pesquisas científicas, o Brasil enfrenta uma série de desafios — que passam pela burocracia — quando o assunto é a regulação e ampliação desses estudos. Para o presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Renato Porto, o país é “o pior” para se fazer pesquisas clínicas. Para o executivo, “concepções ideológicas” ainda travam esse avanço.
“Estamos perdendo para todos. Ou seja, nós somos o maior país da América Latina, nós temos o maior número de pacientes, nós temos universidades capazes de começar a absorver essa tecnologia, porque ninguém vai fazer isso da noite para o dia, isso tem que ser um processo paulatino e progressivo, e nós não estamos fazendo isso”, desabafou o presidente da associação nesta terça-feira (24/10) durante o CB Talks: Radar dos Raros — uma parceria do Correio com a Vertex.
Segundo Porto, o custo para promover pesquisa nesse âmbito no país ainda é muito alto. Além disso, ele cita o fator do dólar alto, já que quase todas as tecnologias utilizadas durante o processo de pesquisa são adquiridas na moeda norte-americana, que hoje está na casa dos R$ 5.
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Enquanto isso, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de autoria da ex-senadora Ana Amélia, o PL 7082 — que institui a regulação da pesquisa clínica com seres humanos no país. Na avaliação de Renato Porto, o projeto é importante para aperfeiçoar essas pesquisas, além de aumentar a difusão delas no país. “Eu acho que nós temos a oportunidade de mudar um cenário de qualificação desde a base para todo mundo, para todas as doenças”, considerou.
Acesso aos medicamentos
Outro assunto levantado pelo presidente da associação durante o evento foi a dificuldade em garantir um acesso mais igualitário aos medicamentos para o combate às doenças raras. Ao todo, há mais de 8 mil doenças raras diagnosticadas no mundo inteiro e a busca por medicamentos pode durar anos, o que, para o paciente e seus familiares, pode causar um extremo sofrimento, como avalia Porto.
“Pensa que, ideologicamente, o acesso à indústria e inovação, por mais difícil que seja, é difícil, é caro, a cada 10 mil moléculas, a gente chega a uma molécula comercial, a gente gasta US$ 2,5 bilhões para se chegar a uma molécula no qual você gasta muito tempo para raros, isso é difícil, porque o próprio paciente é difícil de você ter”, acrescentou.
Segundo o presidente, que representa a indústria farmacêutica do país, o setor vem implementando esforços para cumprir os requisitos que garantem o acesso dos medicamentos a mais pacientes. “Podemos fazer mais do que isso? A gente pode pensar que o ponto crucial hoje é trazer a absorção dessa tecnologia para o Brasil, para que a gente consiga inovar aqui, que a nossa ciência esteja estabelecida aqui. Para que a gente não seja um país de meramente copiar o que outros países estão fazendo no mundo”, pontuou.
*Estagiário sob a supervisão de Ronayre Nunes
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