ENTREVISTA

Conafer: indígenas devem ter autonomia para explorar terra e gerar riqueza

Carlos Lopes defendeu a necessidade de se respeitar a delimitação das terras de povos indígenas que já foram estabelecidas na Constituição

Neto e filho de indígenas, o presidente julga a tutela do estado brasileiro sobre os povos originários como
Neto e filho de indígenas, o presidente julga a tutela do estado brasileiro sobre os povos originários como "um fracasso" - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
postado em 13/10/2023 18:07 / atualizado em 13/10/2023 18:15

Aprovado no Senado, no último dia 27, o marco temporal para terras indígenas segue para sanção presidencial e continua dividindo opiniões. Ao CB.Agro — parceria entre Correio Braziliense e TV Brasília — desta sexta-feira (13/10), o presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer), Carlos Lopes, afirmou que espera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vete o projeto de lei. Lopes vê o debate além da polarização entre esquerda e direita, para ele a matéria já foi definida pela Constituição e essa decisão deve ser respeitada.

“Eu defendo que se mantenha a Constituição cidadã e garanta aquilo que já foi discutido lá atrás por pessoas mais nobres e bem intencionadas. Eu acredito, hoje, muito no causalismo do interesse, apenas para ter apoiadores ou afins, porque eu não vi ninguém justificar o marco temporal com inclusão de trabalho, com um levantamento de economia, com melhoria de estrada, de escola, de médico, não. Então, espera aí”, argumentou.

Neto e filho de indígenas, o presidente julga a tutela do estado brasileiro sobre os povos originários como “um fracasso”, o que torna-os desprovidos de assistências básicas, como a médica e a jurídica. “O que nós estamos atrapalhando? O que nós estamos segregando ao país mantendo o que era nosso antes de chegar a ‘maravilha do mundo’ [referindo-se, provavelmente, à colonização no século passado] que chegou aqui?”, indagou.

Carlos não acha que o problema do país seja relacionado a terras e defende que os povos indígenas tenham autonomia para explorar seu domínio e gerar, assim, riquezas para o estado.

“Eu nunca acreditei que o Brasil tinha problema de terra. Eu acredito no mesmo que Darwin, que toda espécie que não evolui some, e por quê nós temos que deixar o parente em 1.500 se estamos em 2023? Você já parou para pensar no que esses indivíduos poderiam colaborar economicamente para nós, Brasil? O mundo não nos conhece, de fato, porque somos uma cultura acoplada de Portugal e da Europa. O mundo não conhece a nossa cultura, as nossas cores, formas, alimentos, porque tudo está aqui. Será que nós não poderíamos ter isso dentro do nosso portfólio, Brasil?" 

"O verdadeiro Agro do Brasil" 

O presidente da Conafer defendeu que a expressividade do agronegócio familiar é massiva no Brasil e que, segundo uma pesquisa realizada pela confederação em 2019, 85% das propriedades rurais do país eram familiares.

“Em 2019, a gente fez uma pesquisa de mercado para identificar nossos recortes e importâncias de setor, e começamos com a seguinte informação: 77% dos trabalhadores rurais, que prestam serviço a proprietários rurais, é a agricultura familiar que emprega. 10,1% do PIB somos nós [quem produzimos]. 85% das propriedades rurais no Brasil são nossas. A cada 10 casas, sete somos nós que alimentamos. (...) Eu acho que é um coletivo de pessoas muito importante que faz negócio, mas quando se trata de produzir alimento para consumo, o prato da mesa, foi por esse recorte que nós fizemos essa alta afirmação”, argumentou.

Apesar de defender a importância da agricultura familiar, Carlos descarta uma pretensão de concorrer com os médios e grandes produtores do agronegócio. “Nós tínhamos que ceifar isso do Brasil, de sermos concorrentes de nós mesmos”, ressaltou.

“Acho que deveríamos militar para sermos um segmento coletivo, logicamente com especificidades, uns pequenos, outros médios, outros grandes, uns produzindo floresta agora, com a nova política da comercialização do crédito de carbono. Acredito que estamos ficando modernos no âmbito de produzir, porque até produzir ar virou um commoditie. Então, eu acredito que essas divisões nos empobrecem porque enquanto ficamos debatendo quem é maior ou menor, perdemos oportunidades de mundo, de negócios”, defendeu.

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