A onda de violência que assusta a Bahia fecha o mês de setembro com 51 mortes registradas oficialmente, resultado dos confrontos entre as forças de segurança e supostos integrantes de facções criminosas. Nas últimas horas, três pessoas morreram em trocas de tiros nos bairros de Valéria — onde, no dia 15, o agente federal Lucas Caribé, de 42 anos, foi vítima de um conflito armado — e Nova Brasília, ambos na periferia de Salvador.
Segundo Marcelo Werner, secretário de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), a explosão de violência é resultado da guerra entre duas grandes facções criminosas de âmbito nacional, que se associaram a grupos locais pelo controle das rotas para a distribuição de droga e pelo varejo tráfico de crack, maconha e cocaína. Mas a quantidade de vítimas fatais do confrontos vem chamando a atenção, o que levou a secretaria a remeter uma nota ao Correio assegurando que "as ações policiais são pautadas na legalidade e buscando sempre a preservação da vida".
As mortes, segundo a SSP-BA, aconteceram quando os agentes de segurança tentavam cumprir mandados de prisão expedidos pela Justiça. Pela redes sociais, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), assegurou que as forças policiais não vão recuar nem deixar de cumprir o papel que lhes cabe.
"A segurança pública é um assunto que deve ser debatido por toda a sociedade. Temos que ser firmes no combate às facções e ao tráfico de drogas", anunciou.
Nesta semana, o governador se reuniu com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que prometeu intensificar as ações conjuntas e aumentar a destinação de equipamentos e tecnologias para as operações de combate à criminalidade.
Plano de segurança
Porém, a questão da Bahia — estado administrado pelo PT há 16 anos — começa a trazer desgaste político para o governo federal. À crise na segurança pública no estado, se soma a violência crônica no Rio de Janeiro, cujo governo local pediu ajuda ao Ministério da Justiça para tentar contar a escalada de brutalidade registrada nos últimos dias.
Um dos episódios mais recentes do descontrole da criminalidade no Rio foi a detonação, por assaltantes, de uma granada dentro de um ônibus, na Avenida Brasil, na altura de Barros Filho, na Zona Norte da cidade, por volta das 21h30 de quarta-feira. A explosão feriu gravemente um homem e duas pessoas foram atingidas por estilhaços.
A articulação entre os governos federal e fluminense deu mais um passo ontem, no encontro entre o governador Cláudio Castro (PL) e o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli. No encontro, ficou acertado, nesse primeiro momento, que a Força Nacional atuará em conjunto com a Polícia Militar nas ações ostensivas e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) ajudará na vigilância da Avenida Brasil — que faz parte das BRs 040, 116 e 456 e corta o Complexo da Maré, região na qual houve o ataque com granada, na quarta-feira.
A ideia é incluir o estado como uma das prioridades do Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas, que será anunciado, na segunda-feira, pelo ministro Flávio Dino.
Os detalhes ainda estão sendo fechados, mas vem sendo estudada a possibilidade de convocar integrantes das Forças Armadas para o plano de intensificação de vigilância das fronteiras, sobretudo nos portos e aeroportos. A ideia é realizar operações permanentes e abafar o tráfico de armas e de drogas que entram no Brasil por esses dois canais.
Os militares, porém, resistem em participar ativamente em operações de ação ostensivas contra grupos criminosos, mas não se furtariam a contribuir com inteligência e informações. A Polícia Federal (PF) também não pretende fazer parte da linha de frente — participaria, ao lado das forças de segurança estaduais, na parte investigativa.
Para Ricardo Cappelli, a espinha dorsal do programa é colocar de pé o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). "Se o crime está cada vez mais organizado e estruturado no país, o poder público precisa estar, também, cada vez mais integrado para combatê-lo", alertou.
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