Por Isabel Dourado* — Pesquisa nacional realizada pela Fiocruz em parceria com pesquisadores da Universidade de Harvard avaliou o cenário de suicídios entre indígenas e não indígenas no Brasil. As análises de dados foram realizadas a partir do banco de dados oficial de mortalidade do Ministério da Saúde. O estudo mostrou que entre o período de 2000 e 2020 houve um crescimento na incidência de suicídios entre indígenas principalmente naqueles de 10 a 24 anos. As regiões Norte e Centro-Oeste aparecem em destaque com maior risco de suicídio, especialmente nos estados do Amazonas e Mato Grosso do Sul.
Jesem Orellana, chefe do Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi) do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e um dos coautores do estudo explica que as taxas de suicídio em indígenas foram maiores em homens.
“Em homens de regiões como a Centro-Oeste e Norte, as taxas de suicídio chegaram a alcançar 73,75 e 52, por 100 mil habitantes, em 2018 e 2017 respectivamente. Em indivíduos de 10 a 24 anos da região Norte, o grupo etário de maior risco para o suicídio indígena, essas taxas aumentaram substancialmente de 2013 em diante”, detalha.
Causas do suicídio indígena
A pesquisa intitulada Suicídio entre povos indígenas no Brasil de 2000 a 2020: um estudo descritivo foi publicada na revista The Lancet Regional Health — Americas (leia o estudo na íntegra neste link). De acordo com o estudo, em nível nacional, tanto as taxas de suicídio entre não indígenas, quanto de indígenas, sofreram um aumento entre o período de 2000 a 2020.
Orellana, destaca que as causas do suicídio entre jovens indígenas podem ter ligação com a perda da identidade indígena e a crescente ocorrência de violências sexuais. “Esses jovens sofrem com preconceito, muitas vezes não recebem escolarização e não conseguem se inserir no mercado de trabalho formal. Já as mulheres indígenas ainda sofrem muito com as pressões de casamento, contra a vontade delas e isso pode criar esse conflito. Porque elas vivem uma realidade diferente dos pais, dos avós e às vezes desistem da vida por conta das questões culturais e pelo racismo estrutural que enfrentam”.
O pesquisador reforça ainda que os conflitos territoriais também podem ter uma influência nos casos de suicídio entre jovens indígenas. “A questão territorial no Mato Grosso do Sul também impacta fortemente sobre as expectativas dos indígenas, especialmente dos jovens que desistem da vida em função desses conflitos”.
*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes