São Paulo — O primeiro Museu da Vacina da América Latina é de criação do Instituto Butantan, localizado em São Paulo (SP), dentro do Parque da Ciência — complexo com diversos museus, viveiros e laboratórios. Com jogos interativos, cinema 6D e hologramas, as salas do casarão do século 19 fazem uma imersão tecnológica no mundo das vacinas, passando por toda a história mundial até chegar aos desafios do movimento antivacina atual.
"Esse museu tem o propósito de ensinar sobre as vacinas e a base científica da produção delas. Só através da educação, da informação científica correta, é que nós vamos conseguir combater as notícias falsas, tirar o medo, tirar as dúvidas", explica Rui Curi, diretor de Imunobiológicos do Instituto Butantan. A ideia que surgiu antes mesmo da pandemia de covid-19 foi colocada em prática no início deste ano. A visitação para todas as idades surpreende pelo nível de tecnologia envolvido.
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Antes de iniciar a visita pelo museu, uma pequena sala de cinema 6D recebe o público com óculos que aumentam a realidade, poltronas que se movem, e água espirrando. A experiência é de entrar em uma veia do corpo humano, passando por hemácias e glóbulos brancos flutuando. Um alarme alto começa a tocar e, de repente, vírus entram no sistema imunológico e o infectam. Há, então, uma rápida explicação de como a pessoa foi contaminada. Com a vacinação, retornamos ao mesmo local onde o vírus estava e assistimos à ação dos antircorpos.
Partindo dali, começa o tour por dentro da Casa Rosa, primeira edificação do complexo Butantan, que foi a residência do primeiro diretor da instituição, Vidal Ramos. Uma pequena sala, cheia de projeções de vídeo na parede, mostra a história dos três "pais da vacina". Edward Jenner, da Inglaterra, descobriu a primeira vacina do mundo contra a varíola humana; Louis Pasteur produziu a vacina da raiva, na França; e Robert Koch encontrou o bacilo causador da tuberculose, batizado de "bacilo de Koch".
Linha do Tempo
Ali também se inicia uma linha do tempo que percorre todo o museu contando a história mundial atrelada às descobertas da ciência sobre doenças e vacinas. Algumas curiosidades também foram acrescentadas nas artes, como o fato de que a maioria dos pesquisadores do Instituto Butantan são mulheres (71%), segundo pesquisa da Divisão de Recursos Humanos do instituto em 2020, e de que crianças negras foram levadas sem autorização a Portugal para serem cobaias em experimentos de vacinação no século 18.
Seguindo o passeio, começam os saguões com atrações interativas. Duas ilhas com tablets exibem vídeos coloridos, lúdicos e explicativos sobre o processo de fabricação das vacinas.
Um dos audiovisuais mostra os diferentes métodos para desenvolver as vacinas, que pode ser feita com o vírus enfraquecido, inativo ou à base de código genético, o RNA. Já o outro tem a proposta de ser um jogo para que a própria pessoa produza um imunizante em laboratório, com um passo a passo explicando cada etapa.
Criação de vacinas
Na sequência, dois hologramas de cientistas do Butantan contam como foi enfrentar a pandemia de covid-19 e os bastidores do desenvolvimento da CoronaVac — primeira vacina contra a doença a ser aplicada no Brasil, que foi feita em menos de oito meses. O laboratório brasileiro também produz as vacinas contra poliomielite, HPV e influenza.
Mesas interativas, painéis e jogos de madeira ilustram como os antígenos da vacina atacam os vírus dentro do corpo. Botões ao lado de três corpos humanos dão as opções de ver como é a reação quando a pessoa está infectada de uma doença e sem vacina, e como é quando ela está vacinada. Televisões também mostram a queda de casos de covid-19 no mundo após o início da vacinação.
A questão econômica também é evidenciada nas informações do museu. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, entre 2001 e 2020, 350 bilhões de dólares foram economizados no tratamento de 10 doenças infecciosas em 73 países do mundo por conta da vacinação. O número é muito maior que o valor investido na produção, distribuição e aplicação das doses, segundo o Butantan.
Um corredor de cartazes mostra campanhas de vacinação ao longo dos anos no Brasil, em que é possível acompanhar as mudanças do personagem Zé Gotinha. Alguns instrumentos históricos também estão à mostra.
Combate às notícias falsas
O caminho leva até o último cômodo, focado no combate às notícias falsas. "Veja que os movimentos antivacinais começaram em 1901, nos Estados Unidos, já tinha gente lá que era contra a vacina, tinha medo da vacina. Nós enfrentamos agora um grande movimento antivacinal e temos só uma arma contra isso: a educação", completa Curi. Ali estão muitas fake news que circularam durante a pandemia acerca das vacinas. Jogos de "verdadeiro ou falso" desmistificam com dados cada notícia falsa, fazendo uma educação científica. Um outro desafio, também interativo, pede para que você convença os negacionistas a se vacinarem. O passeio acaba com um vídeo comemorativo dos 35 anos do Sistema Único de Saúde (SUS) reforçando que "vacinas salvam vidas".
A repórter viajou a convite da Farmacêutica MDS