Entrevista — Thaís de Mendonça Jorge, professora da UnB

'A academia está perplexa com a desinformação'

Organizadora de livro que será lançado, hoje, em evento no STF, ela salienta que o impacto das mentiras na sociedade está trazendo imensos prejuízos à democracia e enfraquecendo as instituições de Estado

O Supremo Tribunal Federal (STF) lança, hoje, o livro Desinformação — O mal do século, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). O evento faz parte de um debate, que vai até amanhã, no qual a Corte tratará justamente do combate às notícias falsas. O seminário Combate à Desinformação e Defesa da Democracia contará com palestras da presidente, ministra Rosa Weber, e do ministro Luís Roberto Barroso. O livro foi organizado pela professora Thais de Mendonça Jorge, da Faculdade de Comunicação (FAC) da UnB. Ao Correio, ela explicou que a obra reúne artigos de diversos pesquisadores da universidade e de integrantes do STF. Ela afirma que há uma perplexidade, dentro da academia, com o impacto das informações falsas na sociedade, o que motivou o trabalho dos estudiosos. Além de textos jurídicos, a obra reúne, ainda, o efeito da desinformação em outras áreas, como na saúde.

Como surgiu essa parceria entre a Corte e a UnB?

O STF tinha esse programa de combate à desinformação e procurou universidades do país para parcerias. Na UnB, quando fizemos uma primeira reunião, fiquei surpresa com a quantidade de professores que estavam pesquisando sobre desinformação — eram uns 40. Propus a ideia do livro com todas essas pesquisas. Começou no ano passado. Demorou um ano, mais ou menos, para montar a obra.

E qual a participação do STF nela?

Tem três juristas que assinam artigos com a gente. Um é a Rosa Weber, que é a mais importante de todas. Também escreveram o Jorge Santa Ritta (analista judiciário) e o Rodrigo Canalli (assessor-chefe da Assessoria de Inteligência Artificial).

Como o tema da desinformação é tratado na universidade?

Na academia, mais do que na sociedade, existe uma perplexidade em relação a tudo isso que estamos passando. Está junto com a própria complexidade da vida que estamos vivendo com todas as redes sociais, e a gente atuando nesse mundo paralelo. Estamos com uma perna na sociedade real e, com outra, fazendo coisas no mundo surreal, digamos assim, das redes sociais. Tudo isso se mistura. Quando a coisa fica perigosa, como é o caso da desinformação, que se difunde com muita facilidade e alcança as pessoas mais desavisadas, do ponto de vista científico fica um objeto muito interessante para ser estudado.

Qual o objetivo do livro para o leitor?

Tentar contribuir para que a sociedade enxergue esse fenômeno sob vários aspectos. Você vê como cada um (dos autores) focou em um aspecto diferente da desinformação. Você vê que cada um é diferente do outro. Tem desde o ObservInfo, que é o observatório de desinformação, que funciona na Faculdade de Comunicação da UnB, até um artigo sobre ferramentas de checagem, que foi todo o sistema de consórcio para verificar as informações. É muito variável. Tem um outro artigo sobre a necessidade da literacia midiática.

A senhora assina um dos textos?

Meu artigo é junto com um aluno, o Pedro Faray. Ele fez uma monografia sobre um dia de comentários no X (antigo Twitter) a respeito das urnas eletrônicas. Nós analisamos isso, o que as pessoas estavam falando sobre as urnas. Apareceram todos esses de direita que, hoje, estão aí, às escâncaras, que está todo mundo vendo quem são. Alguns estão até presos e já aparecem nesse artigo. Tem todo tipo de abordagem no nosso livro, que é o que o faz interessante.

Acompanhe o evento 

 

Mais Lidas