O mês de setembro é marcado pela campanha de prevenção ao suicídio e traça um período de conscientização para o cuidado com a saúde mental. O lema da ação deste ano do setembro amarelo é “Se precisar, peça ajuda!” O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio foi neste domingo (10/9), mas o cuidado deve ser tomado durante todo o ano a fim de desmistificar o tema.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o suicídio pode ser caracterizado como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. O tema, apesar de sensível, abrange cerca de 17% da população brasileira que já pensou, em algum momento, em tirar a própria vida.
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Em entrevista ao Correio, a psicóloga clínica Juliana Gebrim, neuropsicóloga do Instituto de Psicologia Aplicada e Formação de Portugal (IPAF), relata que a quebra do tabu em relação ao suicídio é um desafio que requer esforços coletivos.
“É fundamental que a sociedade como um todo se engaje nessa discussão, para que o tema seja tratado com a seriedade e a sensibilidade que merece. Somente assim poderemos avançar na prevenção e no combate ao suicídio, oferecendo suporte e esperança para aqueles que mais precisam”, complementa.
A especialista salienta que falar sobre suicídio não deve ser encarado como um incentivo, mas sim como uma forma de oferecer apoio, compreensão e informação para aqueles que estão passando pelo problema. “O diálogo aberto pode ajudar a quebrar o estigma e a promover a busca por ajuda profissional, além de fortalecer a rede de apoio social.”
Sinais de alerta
É possível identificar alguns sinais de alerta que podem indicar que alguém está sofrendo com pensamentos suicidas, mas é importante ressaltar que tais sinais não são definitivos e cada pessoa pode apresentar diferentes comportamentos, como explica a profissional.
“Mudanças de comportamento, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, expressões verbais como 'Eu não aguento mais', 'A vida não vale a pena' ou 'Eu queria sumir'; sinais de tristeza profunda, desespero, irritabilidade e ansiedade intensa podem ser alguns dos sinais de que a pessoa está tentando lidar com a dor emocional de forma inadequada”, destaca a especialista.
Gebrim acrescenta que a presença de transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade, entre outros, aumenta o risco de pensamentos suicidas. “Esses transtornos podem afetar o funcionamento emocional e cognitivo da pessoa, levando-a a sentir-se desesperançosa e sem saída.”
Para além dos percalços mentais, experiências traumáticas como abusos, perdas de entes queridos, dificuldades financeiras, desemprego, bullying podem contribuir para o surgimento de pensamentos suicidas.
A profissional conclui que a falta de conhecimento e conscientização sobre os sinais de alerta e os recursos disponíveis para prevenção do suicídio podem dificultar a identificação precoce e a intervenção adequada do problema.
“Também impactam neste cenário, além da escassez de serviços de saúde mental, a falta de profissionais capacitados e a dificuldade de acesso a tratamentos adequados, que se transformam em barreiras significativas para a detecção e a prevenção do suicídio”, finaliza.
Canais e meios de prevenção
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza núcleos de ajuda ao enfrentamento do pensamento suicida. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), assim como as Unidades Básicas de Saúde (UBS), são destinos capacitados para o atendimento de pessoas com sofrimento mental grave e em situações de crise.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza o apoio emocional e prevenção do suicidio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que precisam conversar, protegendo esses sob total sigilo. Seja por meio de telefone, e-mail, chat ou voip, o suporte é constante e funciona 24 horas todos os dias.
O CVV funciona em parceria com o SUS e pode ser contatado por meio do número 188, com ligação gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.
A porta-voz do CVV, Leila Herédia, reforça em entrevista a importância do centro no apoio emocional e na prevenção do suicídio. “Nosso papel é oferecer uma escuta ativa, qualificada, plena, para que as pessoas sintam um ambiente seguro no qual elas possam ser elas mesmas, sem temer críticas. Muitas vezes tudo o que as pessoas querem é ser escutadas e acolhidas, saberem que seus sentimentos são importantes e legítimos”, afirma.
Segundo ela, cerca de 3,5 milhões de atendimentos foram contabilizados em 2022, intensificando a necessidade de um olhar cuidadoso sobre o tema. Herédia conclui afirmando que é extremamente necessária a mobilização e conscientização das pessoas a buscarem ajuda e assim conseguir disseminar informações que ajudem na prevenção. “Setembro Amarelo é isso, um convite para que todos se engajem nesta causa durante todos os meses do ano.”
Suicídio no Brasil e no mundo
Dados do 17° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em julho deste ano, mostram que o número de suicídios no Brasil em 2022 teve um aumento de cerca de 11%, contabilizando 16.262 casos, 1.787 casos a mais que em 2021.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas morrem, em todo o mundo, por ano, devido ao suicídio. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) destaca que a taxa de mortalidade por suicídio na região das Américas tem aumentado, realçando a necessidade urgente de tornar a prevenção do suicídio uma prioridade de saúde pública.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro
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