Já assentou a poeira das eleições e de início de governo e chegou setembro, o nono mês da atual administração federal. Na porta de setembro estão batendo prefeitos, principalmente os do Nordeste, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorioso. Das janelas da Faria Lima, em São Paulo, já se vêem rostos surpresos, apreensivos e, talvez, arrependidos por terem assinado a tal Carta pela Democracia.
No Congresso, o calor da eleição já baixou e perdeu-se a oportunidade de agir sob a força de votos ainda frescos. A picanha não se coletivizou e essa pode ser a pior parte. A favor do governo, não há restrições de pandemia e o fato de a mídia ser sempre anti-Bolsonaro, desde que ele entrou na política e, por consequência, agir pró-Lula. Isso gera notícia em favor do governo e emudece a saudável crítica.
No entanto, números não são opiniões, mas fatos. Em julho, os crescentes gastos do governo federal já superaram a decrescente arrecadação em R$ 36 bilhões. Para o ano que vem, ano eleitoral, faltam R$ 168 bilhões. Claro que quem pagará isso somos nós. O Arcabouço Fiscal — eufemismo para o arrombamento do teto de gastos — vai permitir, em 2024, um acréscimo de R$ 129 bilhões nas despesas.
O governo quer uma reforma tributária que o permita arrecadar mais. Anuncia que vai cobrar dos ricos, mas o cobrado por cima se derrama para baixo. O consumidor vai pagar o imposto que estará embutido nos preços. Quer cobrar do assalariado três vezes mais de imposto sindical para garantir a boa vida das cúpulas sindicais que apoiam o governo.
Como não se saiu bem na eleição para deputados e senadores, o governo os atrai com liberação de emendas e oferta de cargos. E tudo tem um custo, inclusive o de ampliar o ministério. E a mexida agrada uns e desagrada outros. Trocar PT por Centrão tem ônus político-eleitoral. Assim como voltar ao antigo sistema de contratar publicidade estatal em troca de apoio. Aliás, a propaganda é a alma do governo.
Na Câmara, é grande a animação em torno de uma reforma administrativa que limite o inchaço do Estado. O governo não quer porque sua ideologia é a do Estado grande se impondo a uma nação fraca e obediente. Lula já expressou sua admiração ao sistema chinês, onde o governo fala e o povo cala. E não conseguiu impedir a prorrogação da desoneração da folha.
Giros internacionais
Na política externa, há muitas viagens. Mas só isso. A desta semana é a 13ª e vai à Índia. A ideologia está atrapalhando. Até a Human Rights Watch criticou o governo Lula por suas omissões ante as agressões aos direitos humanos na Venezuela, Cuba, Nicarágua, China e Rússia. A tentativa de impor Nicolás Maduro na reunião regional em Brasília pegou mal até ante o esquerdista chileno Gabriel Boric.
As declarações do presidente sobre o conflito Rússia-Ucrânia têm sido desastrosas. Enfim, terminam-se as preliminares e já é tempo de medir resultados. Nota-se muita propaganda e um sinuoso rumo político, junto com a inglória tentativa de fechar contas com gastos inchando.
Ao chegar setembro, as expectativas criadas começam a gerar frustrações pela constatação que o governo atual está menos parecido com os dois mandatos passados de Lula e mais semelhante aos períodos de Dilma Rousseff.
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